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30 de out. de 2011

Banco Neon / Neon Pagamentos

          De 2013 a 2016, a startup Contro.ly vendia cartões pré-pagos. Fundada por Pedro Conrade, que exerce a função de presidente, em 15 de julho de 2016 passou a se chamar Neon Pagamentos, após fazer um acordo operacional com o banco Neon, de Belo Horizonte.
          A essas alturas já estava sendo desenvolvido um aplicativo com vários recursos. Quem contratava os serviços pelo aplicativo da Neon Pagamentos se tornava cliente do banco Neon. O aplicativo oferece conta-corrente digital, investimentos em CDBs e cartões de crédito e débito. Seu modelo de conta digital vem atraindo principalmente jovens da geração "millennial".
          A ideia da criação da "fintech" (Neon Pagamentos) surgiu depois que Conrade foi cobrado pelo banco em que mantinha conta, de uma tarifa completamente desproporcional ao pequeno valor que usou do cheque especial. Um dos objetivos básicos do Neon é que seus clientes não passem pela mesma experiência.
          O banco Neon surgiu em março de 2016 a partir do pequeno Pottencial. Um dos cofundadores é o executivo Alan Chusid. Tem apenas uma agência, em Belo Horizonte, e autorização para atuar como banco comercial.
          Anteriormente, o banco Pottencial já tinha enfrentado alguns problemas. Em 2010, o Ministério Público Federal (MPF) de Minas Gerais havia denunciado quatro diretores do banco pelos crimes de gestão fraudulenta e gestão temerária. Em 2013, eles foram condenados em primeira instância ao pagamento de multas. O MPF recorreu, pedindo penas mais duras, mas o processo ainda não foi julgado. Segundo Conrade, a auditoria da Neon Pagamentos questionou o banco mas concluiu que o problema era dos diretores, não da instituição.
          No acordo entre banco Neon e Neon Pagamentos, ficou acertado que as equipes seriam separadas, assim como os controladores de cada empresa - apenas os sócios do banco têm uma participação minoritária na Neon Pagamentos.
          Nos primeiros meses de 2018, a fintech reforçou a equipe com figuras conhecidas e experientes nos mercados financeiros e de tecnologia. O objetivo é colocar em marcha o plano de ampliar os serviços e aumentar substancialmente a quantidade de clientes.
          Chegaram à empresa Norberto Giangrande, fundador da Link Investimentos e um dos fundadores da corretora Rico, vendida em 2017 para a XP Investimentos, e Patrick Sigrist, fundador do aplicativo iFood, que foi um dos investidores-anjo que fizeram as primeiras rodadas de investimento na empresa de Conrade. Ambos já eram sócios do Neon Pagamentos e agora se integram ao dia a dia da operação. Eles se juntam a Jean Sigrist, ex-Itaú e um dos fundadores da Guide Investimentos, que chegou ao Neon, no fim de 2017.
          O trio injeta experiência. "Em um jogo difícil, em que atuam grandes players, precisamos ser bons não só na parte de tecnologia, mas na bancária também", afirma o fundador e presidente Conrade.
          Com quase 600 mil usuários e 1 milhão de downloads do aplicativo para celular, considerando dados de março de 2018, a startup prepara o lançamento de uma plataforma de investimentos e de um cartão de crédito, além de uma área para o atendimento a pequenas empresas.
          Para o cartão de crédito, a Neon Pagamentos pretende ser bem didática. "Temos a obrigação de ensinar o cliente a lidar com o crédito", diz Conrade. É uma pretensão e tanto. Um dos atrativos  do cartão deve ser a taxa de juros menor para quem tiver recursos aplicados no banco. Mas aí, depara-se com um grande paradoxo. Como os juros de cartão de crédito são velhos conhecidos no Brasil, mesmo que o Neon cobre menos que o mercado, nunca compensará pagar juros e deixar o dinheiro aplicado. Pelo menos no tocante a aplicações de renda fixa.
          O principal produto oferecido pelo banco, considerando março de 2018,  era a conta corrente vinculada a um cartão de débito, que pode ser usado como se fosse de crédito para o pagamento de serviços como a conta do Netflix ou do Uber.
           Como fazem as principais fintechs, o Neon não cobra tarifas para a maioria dos serviços. E o cliente que tiver qualquer valor na conta pode aplicar em certificados de depósitos bancários (CDB) do banco com rendimento 100% do CDI.
          Em 3 de maio de 2018, a Neon Pagamentos recebeu um aporte de R$ 72 milhões em rodada de investimentos com participação de Propel Ventures, Monashees, Quona, Omydiar Network, Tera Capital, family office do Patria Investimentos, e a Yellow Ventures. Os recursos são destinados a aumentar a gama de produtos oferecidos, como investimentos e serviços de crédito. O aporte financeiro foi comemorado com grande entusiasmo pelos 160 funcionários no escritório recém-alugado em São Paulo. Conrade chegou a ser aplaudido quando deu a notícia, e o grupo todo nem imaginava que poucas horas depois, Conrade iria receber um telefonema do BC sobre a liquidação do banco Neon, como descrito logo adiante,
          O banco Neon ainda operava no vermelho. De janeiro a setembro de 2017, o prejuízo foi de R$ 5,2 milhões. O índice de Basileia era de 12% no fim do terceiro trimestre, acima do mínimo regulatório de 10,5%, mas era provável que a instituição iria precisar de um aporte de capital para entrar mais forte no mercado de crédito. Os números consideram as informações do banco e não da empresa de tecnologia do Neon. Conrade explica que, com o crescimento, a conta deve fechar em breve, citando casos como o MBank, da Polônia, o russo Tinkoff Bank e o Number26, da Alemanha.
          Mas, a conta não fechou. Em 4 de maio de 2018, o Banco Central (BC) decretou a liquidação extrajudicial do Banco Neon S.A. A supervisão da autoridade monetária constatou o comprometimento da situação econômico-financeira, bem como a existência de graves violações às normas legais e regulamentares que disciplinam a atividade da instituição. Segundo o BC, não há nada de errado nas operações transferidas pela Neon Pagamentos ao banco. As irregularidades estão concentradas na operação tradicional do banco, como empréstimos para pequenas e médias empresas. Para o leitor não se perder no tocante a algumas datas, o banco Neon foi liquidado um dia depois (04.05.2018) de a Neon Pagamentos ter recebido o aporte de R$ 72 milhões (03.05.2018).
          A instituição, que detinha 0,0038% dos ativos do sistema bancário, fechou 2017 com prejuízo de R$ 2,756 milhões, patrimônio líquido de R$ 36,854 milhões e ativos totais de R$ 261,738 milhões.
          Desse ativo total, entre R$ 20 milhões a R$ 25 milhões são correspondentes aos cartões pré-pagos. Pela legislação em vigor esses recursos não entram na movimentação normal do banco e ficam depositados no próprio BC.
          A Neon Pagamentos e seus sócios e controladores não são atingidos pela liquidação extrajudicial do Banco Neon. Segundo a autoridade monetária, a Neon Pagamentos é uma plataforma de tecnologia  que tinha um acordo com o Banco Neon, instituição financeira tradicional, que utilizava os serviços da Neon Pagamentos para emissão de cartões pré-pagos e contas digitais. Os controladores da Neon Pagamentos não têm ações do banco.
          Segundo o BC, os controladores da Neon Pagamentos podem ofertar sua plataforma para outras instituições financeiras ou mesmo pedir autorização para virar uma instituição de pagamento. Mas a avaliação de fontes do setor é de que há um claro dano de imagem, já que o banco e plataforma de tecnologia tinham o mesmo nome e se apresentavam como uma única empresa.
          De acordo com o comunicado 31.969 do BC, em decorrência da liquidação extrajudicial, estão indisponíveis os bens dos controladores e ex-administradores. O controlador direto do Banco Neon é a G1 Participações Ltda., que tem sede em Esmeraldas (MG). São listados como controladores indiretos Argeu de Lima Géo, Carlos Géo Quick, João de Lima Géo Filho. Aparecem como ex-administradores, Douglas Martins Godinho, José Almeida de Oliveira e Marcos Vinícius Coelho de Carvalho.
          Assim que o Neon foi liquidado, Conrade e seus sócios saíram à procura de outro banco para fechar um novo acordo e continuar operando. Já em 7 de maio de 2018, primeiro dia útil após a intervenção do BC no Banco Neon, a fintech Neon Pagamentos anunciou acordo estratégico com o Banco Votorantim. O Votorantim vai assumir os serviços custódia e movimentação das contas de pagamento da Neon - operações que até uma semana antes eram feitas pelo Banco Neon.
          O clima interno na Neon Pagamentos continua tenso após a liquidação do Banco Neon. No fim de agosto, Daniel Benevides, um dos fundadores e diretor de design da empresa, foi demitido. No mesmo dia, Camila Monteiro, responsável pelo RH, também foi demitida.
          A Neon Pagamentos lançou, em novembro de 2018, a conta digital Neon Pejota, direcionada a Microempreendedores Individuais (MEI) e Pequenas Empresas. A Neon Pejota não tem cobrança de mensalidade e pode ser aberta de maneira totalmente online. O novo modelo de conta oferece serviços de transferência, pagamento de contas, emissão de boletos, saldo, extrato, saques na rede Banco24Horas, cartão de débito e cartão virtual para compra online sem cobrança de anuidade. As tarifas são cobradas sobre o uso, com o custo R$ 3,50 por transferência e de R$ 2,90 por emissão de boleto.
          Em 14 de novembro de 2019, a Neon Pagamentos finalizou uma rodada de captação de R$ 400 milhões, liderada pela gestora de private equity General Atlantic (GA) e o Banco Votorantim, que terão assentos no conselho de administração.
          Em 15 de julho de 2020 a Neon Pagamentos fechou a compra da Magliano Invest, a mais antiga corretora de valores do mercado brasileiro, dona do número 001 na B3. O valor transação, que ainda precisa ser aprovada pelos órgãos reguladores, não foi divulgado. A Neon passará a oferecer a seus clientes das contas digitais a opção de fazer também investimentos dentro da mesma plataforma. A Neon comprou a corretora como ela estava no momento: vai incorporar a seu negócio a equipe de profissionais, os sistemas e processos de controles. “Isso representará um ganho de timing importante, uma vez que não estamos entrando no negócio do zero”, diz Jean Sigrist, presidente da Neon. Em 2018, a Magliano já havia transferido sua carteira de clientes do varejo para a Guide. No momento da compra pela Neon, operava apenas com a atividade de administração, controladoria e custódia de fundos. A Magliano vai mudar de nome para Neon e, de certa forma, vai voltar a atender o varejo, mas apenas os clientes da fintech.
          Considerando dados de julho de 2020, a Neon Pagamentos alcançou 9,5 milhões de contas.
          O banco Neon demitiu de 180 a 200 funcionários de diferentes áreas em 10 de outubro de 2023, segundo relatos de profissionais da companhia. As áreas mais afetadas teriam sido tecnologia, produtos e design. O Neon informou em nota que “fez ajustes necessários no seu quadro de colaboradores. A decisão foi tomada por uma questão estratégica, pensando em entregar nossas prioridades de negócios ajustadas e alinhadas ao ciclo de crescimento com eficiência operacional. O movimento foi difícil, mas fundamental para Neon preservar a sustentabilidade do negócio”.
(Fonte: jornal Valor - 20.03.2018 / 04.05.2018 / 07.05.2018 / revista Exame 19.09.2018 / Iupana- 26.11.2018 / Valor - 16.07.2020 / 02.09.2020 / 11.10.2023 - partes)

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