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6 de out. de 2011

J.Macêdo

          José Dias de Macêdo, nascido em 1920, empreendedor nordestino típico, começou a vida de empresário aos 19 anos, como representante comercial de alimentos e utensílios domésticos. O negócio cresceu, mas seu pulo-do-gato foi a importação de jipes Willys, um veículo robusto utilizado na Segunda Guerra. O modelo imediatamente se tornou um sucesso em Fortaleza e rendeu o primeiro milhão de dólares a Macêdo. E dali surgiu um dos maiores grupos nordestinos, com atuação em diversos setores.
          A J.Macêdo foi criada no início dos anos 1940, mas a entrada no setor de trigo deu-se na década de 1950. Depois de enfrentar certa dificuldade para comprar o primeiro moinho, a empresa floresceu. Irrequieto, realizado no mundo dos negócios, Macêdo tentou também a carreira política - o que acabou lhe rendendo o apelido de "Senador" que o acompanhou por toda a vida. Seu principal concorrente, a M.Dias Branco, tem seu quartel-general instalado a menos de 50 metros da sede da J.Macêdo em Fortaleza. 
          Desde a década de 1940, a J.Macêdo tenta expandir sua atuação - muitas vezes de forma pouco convencional. Além do trigo, que sempre foi a linha mestra do grupo -, investiu em áreas tão distintas quanto importação de veículos, lojas de eletrodomésticos, frigoríficos, cervejarias e tecelagem. No auge de sua diversificação, entre os anos 1970 e 1980, o grupo chegou a englobar quase 30 empresas diferentes ao mesmo tempo. E, com exceção da moagem de trigo, todas elas trilharam o mesmo caminho - depois de um curto período de exuberância, fracassaram e desapareceram.
          Em maio de  1993, já com o filho Amarílio Proença de Macêdo como principal executivo da J.Macêdo, o grupo assinou com a GP Investimentos, empresa cujos proprietários eram os acionistas majoritários do Banco Garantia, da Brahma e das Lojas Americanas, acordo prevendo sua participação mediante a aquisição de ações preferenciais de seu carro chefe, a J.Macedo Alimentos.
          É pouco frequente ver os donos de uma empresa familiar, com boa saúde financeira e respeitada em todo o país, aceitar a presença de um sócio ao qual terão de dar satisfações e com quem dividirão futuras decisões estratégicas. Amarílio, que teve muitas dificuldades para convencer o pai, via vantagens claras no acordo. O J.Macêdo tinha planos de expansão, e para isso iria precisar de muito dinheiro. Uma de suas metas era disputar a liderança na produção de macarrão, na qual tinha pela frente concorrentes como a Adria e o Bunge y Born. No setor de biscoitos ele teria que enfrentar empresas como Confiança e Nestlé.
          Amarílio, nascido em 1945, formado em administração de empresas pela Universidade Federal de Fortaleza, enfatizava que procurava ficar sempre com as antenas ligadas nos conceitos mais modernos no mundo dos negócios. A convivência com Marcel Herrmann Telles, então presidente da Brahma e Carlos Alberto Sicupira, então principal executivo da GP Investimentos, iam naturalmente de encontro a esses anseios. Sicupira já tinha em mente preparar a empresa para a abertura de capital.
          Na década de 1970, Amarílio, já pensando em marcas nacionais, enfrentou oposição de muitos produtores regionais em relação à criação do que viria a se tornar o carro-chefe da empresa: a farinha de trigo Dona Benta.
          A J. Macêdo S.A., empresa de capital aberto, tem suas ações listadas no Novo Mercado do BM&FBovespa (B3).
          A empresa atua com a marca Dona Benta na área de moagem de trigo, e na produção de massas e biscoitos. É proprietária também da marca Sol. Tem unidades em Fortaleza, Salvador (Simões Filho) e Londrina e encomenda produção em unidades de terceiros em Ponta Grossa e Cascavel, ambas no Paraná.
          Por volta de 2003, Amarílio passou a capitanear aquela que talvez seja a maior virada estratégica da história da companhia. Por mais de cinco décadas, a J.Macêdo dedicou-se a produzi farinha de trigo para outras indústrias de alimentos - um negócio grande, mas pressionado por lucros candentes. Ele determinou que a empresa sairia dessa área e se transformaria numa nova potência nacional de produtos de consumo. Seu primeiro movimento foi a compra das marcas da multinacional Bunge no segmento de massas, farinhas e misturas para bolo.
          Em julho de 2006, o elo com o Bunge se estreitou. Os moinhos passaram a ser administrados em parceria com a Bunge, o que permitiu à J.Macêdo se concentrar ainda mais no desenvolvimento e na promoção de produtos de consumo.
          A guinada carregava consigo um dos maiores desafios de Amarílio à frente da J.Macêdo: a construção de marcas nacionais. O primeiro acordo com a Bunge fez com que o portfólio da companhia passasse de 11 para 20 marcas - entre elas Petybon, Dona Benta e Sol. No processo, a J.Macêdo incorporou duas fábricas em São Paulo e uma na Paraíba. O crescimento repentino gerou o caos, só resolvido tempos depois com um amplo programa de reestruturação.
(Fonte: revista Exame - 09.06.1993 / 27.09.2006 - partes)

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