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6 de out. de 2011

Ipiranga

          Era o mês de novembro de 1934 quando um grupo de brasileiros e argentinos fundaram em Uruguaiana (RS), cidade que faz divisa do Brasil com a Argentina, a Destilaria Rio-Grandense de Petróleo S.A. que originou a Companha Brasileira de Petróleo Ipiranga. A destilaria produzia em alta escala gasolina, querosene, óleo diesel e óleo combustível. Em agosto de 1936, os donos da Destilaria Rio-Grandense uniram interesses e capitais com um grupo de investidores uruguaios e criaram a Ipiranga S.A., Companhia Brasileira de Petróleos. A nova empresa foi constituída na cidade portuária de Rio Grande (RS).
          Em 7 de setembro de 1937 foi fundada a Refinaria de Petróleo Riograndense, na cidade de Uruguaiana e que marcou também a fundação da Petróleo Ipiranga. Fundada pelos empresários Eustáquio Ormazabal e João Francisco Tellechea em associação com investidores uruguaios e argentinos, a Ipiranga logo adquiriu um longeva composição acionária.
          Em 1939, com a nacionalização da produção de petróleo imposta pelo governo Vargas, os sócios estrangeiros foram alijados. Em seu lugar, entraram os também gaúchos Carlos Fagundes de Mello e Francisco Martins Bastos e o carioca João Pedro Gouvêa Vieira. Em 1938, a Ipiranga inaugurou o primeiro posto de combustíveis com a bandeira da empresa na cidade de Rio Grande. No mesmo ano, o presidente Getúlio Vargas assinou um decreto que nacionalizou a indústria de refinação de petróleo. As ações controladas por estrangeiros foram, então, negociadas entre brasileiros que já tinham um vínculo com a refinaria.
          Na década de 1940, a Ipiranga ampliou a sua gama de produtos, passando a produzir solventes, asfalto, lubrificantes e inseticidas no Brasil, pois as importações desses e outros produtos foram restritas, com a Segunda Guerra Mundial. A refinaria chegou a parar suas atividades durante a guerra, porém retomou-as com o seu fim. Mais tarde, em 1953, entraram em funcionamento as unidades de craqueamento térmico, adquiridas nos Estados Unidos, que permitiram a fabricação de novos combustíveis.
          Em 1957, a Ipiranga dividiu suas operações de distribuição de combustíveis em duas empresas, a Distribuidora de Produtos de Petróleo Ipiranga S.A. (DPPI), responsável pela Região Sul e a Companhia Brasileira de Petróleo Ipiranga (CBPI), abrangendo todas as outras regiões.
Dois anos depois, em maio de 1959, a Ipiranga comprou a Gulf Oil Brasil, ampliando sua atuação no território brasileiro. A Gulf, então com 400 postos de serviço, resolveu deixar o Brasil. Essa aquisição, comandada pelo advogado João Pedro Gouvêa Vieira, um dos controladores da Ipiranga, catapultou a então pequena Ipiranga, que só atuava no Sul, para os grandes centros. Juntas, a CBPI e a DPPI passaram a representar 10% do mercado nacional. O negócio despertou certa suspeita. Era uma operação inédita no Brasil: pela primeira vez uma companhia estrangeira passava para o controle de um grupo nacional. Houve acusações de que a Ipiranga não passaria de um mero testa-de-ferro da Gulf. "O presidente Juscelino Kubitschek negou-se a inaugurar o primeiro posto Ipiranga no Rio", disse Gouvêa Vieira.
          A partir da década de 1960, a Ipiranga iniciou a sua diversificação em outros setores, como pavimentação, química, petroquímica, fertilizantes, insumos agrícolas, pesca, agricultura, reflorestamento, administração e hotelaria. Essa estratégia ajudou a companhia a resistir ao "choque do petróleo" de 1973.
          A atividade no setor petroquímico começou tímida dentro do grupo, com a formação da Polisul em sociedade com a Hoechst alemã e a estatal Petroquisa, no final dos anos 1970.
Em 15 de maio de 1992, após um leilão disputado, realizado na Bolsa do Rio de Janeiro, o grupo Ipiranga alcançou uma posição cobiçada no setor petroquímico. Através da Polisul, da qual detém um terço do capital, e junto com a PPH e a Poliolefinas, arrematou 30% do capital da Copesul.
O setor petroquímico passou a representar cerca de 30% de seus negócios. A área química do grupo Ipiranga era comandada pelo engenheiro carioca Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, nascido em 1948, filho de João Pedro, o patriarca de uma das cinco famílias que então controlavam o grupo e presidente do conselho de administração.
          A aposta no setor petroquímico foi ratificada em julho de 1992: junto com a Shell, Suzano e Petroquisa, o grupo Ipiranga inaugurou em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, a Braspol, uma fábrica de polipropileno que mais tarde seria incorporada à holding Polibrasil.
          Em 1993, a Ipiranga demorou seis meses para comprar a rede de postos Atlantic no Brasil. Nomes fictícios (com o código Med) foram criados para manter o sigilo, montou-se uma grande operação financeira para levantar o dinheiro envolvido e todas as idas e vindas dos executivos foram reservadas. Um roteiro típico de espionagem. A Ipiranga consolidou sua posição entre as maiores empresas de distribuição de combustíveis do país. De acordo com o jornal O Globo, a compra da Atlantic foi a maior negociação até então realizada por uma empresa privada nacional. Na ocasião, a Ipiranga herdou 11 pontos da franquia am/pm. Eles não foram comprados pela Ipiranga e continuaram pertencendo à americana Arco (Atlentic Richfield Company), antiga controladora da Atlantic. Na expansão para outros postos, a marca seria usada com pagamento de royalties. A Atlantic era a 13ª maior companhia privada do país. O negócio, de 265 milhões de dólares, também teve Gouvêa Vieira, presidente do conselho de administração, como um dos comandantes, e a Ipiranga passou a dominar 19,7%% do mercado nacional de derivados de petróleo, com perto de 5.800 postos de gasolina. Acrescentou à sua rede de 3.125 postos mais 2.650. Somadas, as duas companhias faturavam 4,3 bilhões de dólares, ocupando a terceira colocação no mercado brasileiro de distribuição de derivados. O negócio, selado em 19 de outubro de 1993, deu origem àquele que se tornou o maior grupo privado nacional. O grupo removido do topo foi o Garantia (Brahma, Lojas Americanas, Banco Garantia) do banqueiro Jorge Paulo Lemann. O número de funcionários passou de 6.350 para 7.800 com a aquisição da Atlantic. No ano seguinte, a empresa lançou a Jet Oil, franquia de serviços automotivos e troca de óleo.
          Em 2001, as famílias donas da Ipiranga concordaram em vender a empresa a um grupo formado por Petrobras, fundos de pensão e outros investidores. No início de 2002, porém, parte dos controladores teria mudado de ideia e estaria então interessada em passar para a frente apenas a área petroquímica.
          Em março de 2007 o controle acionário do Grupo Ipiranga foi vendido para as empresas Petrobras, Ultra e Braskem. A operação foi considerada, na época, o maior negócio já realizado no Brasil. Com a venda, o Ultra assumiu a rede de distribuição de combustíveis da Ipiranga nas regiões Sul e Sudeste, bem como a marca Ipiranga. Já a Petrobras ficou com a parte do grupo nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. O grupo Ultra continuou operando com a marca Ipiranga, mas a Petrobras só pôde utilizar o nome Ipiranga por até cinco anos, enquanto substituiu gradualmente os postos pela sua marca, a BR. Já o controle da Refinaria Ipiranga no Rio Grande do Sul foi dividido em partes iguais pela Petrobras, Grupo Ultra e Braskem que se comprometeram em manter as atividades.
          Em 2008, o Ultra comprou a distribuição de combustíveis da Texaco no Brasil, com bandeira presente em 1986 postos no país. Com isso, a Ipiranga assumiu os postos da marca e voltou a ter presença com rede própria nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste. De acordo com o contrato, o Ultra poderia manter a marca Texaco por cinco anos, devendo substituí-la posteriormente pela bandeira Ipiranga. Com a compra, o Ultra passou a deter 23% do mercado brasileiro de combustíveis transformando-se na segunda maior companhia de distribuição de combustíveis do Brasil.
Em outubro de 2010, o Ultra adquiriu 100% da Distribuidora Nacional de Petróleo (DNP), ampliando, com os 110 postos adquiridos, o volume da Ipiranga em 40% nos estados de Amazonas, Rondônia, Roraima, Acre, Pará e Mato Grosso.
          Em junho de 2016, o grupo Ultrapar adquire, através de sua subsidiária Ipiranga, por 2,168 bilhões, a Alesat Combustíveis, com sede em Natal (RN), dona da rede de postos Ale. São 2 mil postos e 260 lojas de conveniência, além de uma infraestrutura composta por 10 bases logísticas. A rede Ale tem forte presença no Nordeste e complementa geograficamente a rede de postos da Ipiranga, que possui menor participação. Mas, esse negócio ainda está sendo analisado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica - Cade.
          No segmento de lubrificantes, a Ipiranga celebra, em agosto de 2016, acordo com a maior empresa petrolífera americana, a Chevron, para unir seus ativos de lubrificantes em uma nova companhia que já nasce vice líder do mercado com vendas anuais de pelo menos R$ 2 bilhões. A integração da terceira (Chevron) e quarta (Ipiranga) maiores produtoras de lubrificantes no Brasil resultará numa participação de mercado de 22,5%. As companhias vão operar independentes até aprovação do Cade. A Chevron Lubrificantes ficará com 44% da nova empresa e espera se beneficiar com a rede de distribuição da Ipiranga. A Ipiranga, por sua vez, ficará com 56% e ganhará acesso à tecnologia da Chevron.
          Em outubro de 2010 a varejista (lojas de conveniência) do grupo am/pm tinha 1013 pontos de venda. As padarias am/pm somavam 49 unidades. O embrião da rede ocorreu em 1993 quando a Ipiranga comprou a Atlantic do Brasil e herdou 11 pontos da franquia am/pm.
          No fim de 2021 assume o comando da empresa o administrador de empresas Leonardo Linden. A pandemia de covid19 ainda era uma realidade e além desse desafio, o executivo também se deparou com uma empresa com margens descoladas das principais concorrentes.
          Em março de 2023 a empresa divulga que os postos Ipiranga vão passar por uma reformulação, que inclui a mudança de logomarca. A implementação seria feita de forma gradativa à medida que haja renovação ou expansão da rede Ipiranga no Brasil. Os consumidores terão uma “experiência integrada” de jornadas física e digital, que englobam AmPm, Jet Oil, Abastece Aí, Km de Vantagens e pista de abastecimento. O novo posto Ipiranga iria apresentar também uma setorização por cores: o amarelo será predominante na cobertura do complexo, o azul vai indicar os produtos à venda, e o laranja pretende sinalizar áreas de ofertas de serviços gratuitos. Haverá pisos diferenciados para sinalizar o espaço para pedestres, parklets onde as pessoas poderão descansar após uma refeição na AmPm, guardar suas bikes, por exemplo; e até bebedouros convencionais e para pets.
          Sob o comando de Linden, a Ipiranga limpou perto de mil postos, e ficou com cerca de 6 mil postos (bandeira Ipiranga). Esse processo corretivo terminou no terceiro trimestre de 2023. Segundo Linden há uma cultura no setor de medir crescimento por número de postos. É um elemento, mas esquecemos de olhar produtividade da rede e qualidade dos investimentos.
          Considerando números de dezembro de 2023, a Ipiranga tem cerca de 6.000 postos, 1,6 mil lojas de conveniência e 1,1 mil Jet Oil, a maior franquia de serviços automotivos do País.
          Em maio de 2024, Ipiranga e Chevron assinaram acordo de licenciamento de marca para Texaco no mercado varejista de combustíveis no Brasil. A iniciativa marca o retorno da marca ao país após um hiato de 16 anos, após a venda da rede de postos de combustíveis da multinacional ao grupo Ultrapar, dono da distribuidora de combustíveis. Pelo acordo, a Ipiranga será licenciada pela Chevron para vender combustíveis Texaco, com foco em uma rede de postos da marca, além de lojas de conveniência Star Mart. Os combustíveis vendidos nos postos Texaco contarão com tecnologia Techron, informaram as empresas em comunicado à imprensa. Chevron e Ipiranga também são sócias da Iconic, fabricante de óleos lubrificantes, fluidos e graxas.
Posto Ipiranga – Foto: Divulgação

(Fonte: revista Exame - 10.06.1992 / 27.10.1993 / 05.01.1994 / 28.09.1994 / 23.01.2002 / 24.11.2004 / jornal Folha de S.Paulo - 19.03.2007 / informativo Espresso Financista - 13.06.2016 / jornal Valor Internacional - 05.08.2016 / MotorShow - 14.03.2023 / Estadão - 18.12.2023 / Valor - 14.05.2024 - partes).

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