Poucos points boêmios da capital paulista são tão famosos como o Bar Léo, inaugurado em 1940 na Rua Aurora, no centro, com seus chopes, decoração da Baviera e pratos da culinária alemã. Outra de suas inegáveis atrações foi o garçom Luiz de Oliveira, nascido em 1921, funcionário da casa desde 1962. Ou seja, ele passou mais da metade da vida no mesmo estabelecimento. Estima-se que, até hoje (meados de 2016), já tenha servido mais de meio milhão de canecas de chope. Suas bandejas já atenderam celebridades como o ex-presidente e ex-prefeito Jânio Quadros e o cantor Sílvio Caldas. Passou por lá também o ator John Herbert. Diferenças sutis a quase zero grau.
O bar foi aberto por um alemão chamado Paulo e, como não tinha nem nome nem placa, ficou conhecido como Bar do Alemão. O Bar Léo ganhou esse nome na década de 1950 graças ao já falecido curitibano Leopoldo (Léo) Urban, criador também de outras duas choperias no centro — a Amigo Leal, aberta desde 1967 na Rua Amaral Gurgel e ainda em funcionamento, e em 1968 o Bar Barão, que fechou as portas em 2009.
Em 1964, Urban vendeu o negócio a Hermes de Rosa, proprietário de uma mercearia das redondezas e cliente da casa. Nos tempos áureos, ele se orgulhava de servir 500 litros da bebida nas tardes de sábado. Seu chope foi eleito quatro vezes o melhor da cidade na edição “Comer & Beber” de Veja São Paulo, a última delas em 2003.
Mas o famoso estabelecimento já deu suas manquitoladas. Parecia pegadinha antecipada de 1º de abril, Dia da Mentira. No sábado, 31 de março de 2012, os desavisados que foram até a esquina das ruas Aurora e dos Andradas, na região de Santa Ifigênia, não encontraram a festiva muvuca de bebedores na calçada, os garçons apressados, os bolinhos de bacalhau nem, menos ainda, o chope tirado com precisão. Grande instituição botequeira da cidade, o então setentão Bar Léo havia sido fechado no dia anterior por dar um golpe bem baixo na sua fidelíssima freguesia. Com base na denúncia de um cliente, descobriu-se que a casa estava vendendo chope da Ashby (fabricado em Amparo, no interior do estado) como se fosse Brahma, que custava ali (então) inflacionados 6 reais. Devido a problemas também na cozinha, o estabelecimento foi interditado e só voltou a funcionar depois de cumprir as normas da Vigilância Sanitária. Ao contrário do que ocorre na maior parte dos casos de falsificação, os envolvidos não tentaram desmentir as evidências. Espécie de lenda viva do Léo (trabalha lá desde o início da década de 1960), o garçom Luiz de Oliveira, então com 90 anos, contou que o esquema rolava fazia cerca de dois meses. “Sempre fui contra”, afirma ele. A Ashby, que não tem nada a ver com o problema da enganação, confirma o fornecimento do seu produto para lá.
Hermes da Rosa comandou o lugar até morrer, em janeiro de 2003. A viúva, Célia, não era do ramo. Foi aí que entrou em cena sua irmã, Madir Milan, e assumiu o bar. Por ocasião do incidente, nove anos depois, prometeu “levantar o nome do Léo e colocá-lo nos eixos”, declarando: “Será minha última ação pelo bar.” Responsável pela administração do estabelecimento, a empresária Madir Milan, então com 77 anos, admitiu a venda de gato por lebre. Segundo ela, brigas familiares nos últimos anos fizeram o bar acumular dívidas de 400.000 reais, entre encargos trabalhistas, impostos atrasados e empréstimos bancários. “Faltou dinheiro para comprar chope à vista e acabamos apelando para uma opção mais barata”, confessou.
Foram cinco meses de portas baixadas até o grupo Fábrica de Bares, o mesmo do Bar Brahma, assumir o negócio. O constrangedor episódio é uma mancha cada vez mais distante na história do boteco.
Números e fatos fizeram a fama do estabelecimento. Foi eleito quatro vezes o melhor chope da cidade na edição “Comer & Beber” da revista Veja São Paulo, em 1997, 2000, 2001 e 2003. Em seu auge, servia, em média, 1.000 chopes por dia - Numa tarde de sábado de calor, vendia 100 litros de chope por hora.
No início de 2017, o Bar Léo tem uma perda muito sensível: o garçom Luizinho (Luiz de Oliveira), que deu expediente ali por mais de cinco décadas, morreu aos 95 anos.
Também nos primeiros meses de 2017, a casa abre sua primeira filial, na Zona Norte da cidade de São Paulo, na Avenida Braz Leme, 1020, Casa Verde. Não dá para bebericar na calçada, como se faz na unidade do centro. O novo boteco fica dentro de um recém-erguido prédio comercial moderno. Com azulejos nas paredes, prateleiras de madeira escura, vitrais coloridos e canecas doadas pelos clientes, a decoração é semelhante à da casa-mãe e ajuda a quebrar o gelo da localização.
Para dar consistência ao atendimento, o sócio da casa do centro, Sergio Lima, foi escalado para tocar as operações da recente empreitada. Copeiro há mais de 30 anos, Fernando Lopes é outro que vai passar uma temporada na filial.
O cardápio repete as pedidas certeiras do centro, entre elas o bem temperado bolinho de carne, os canapés de copa e pasta de gorgonzola e o bolinho de bacalhau - disponível às quartas e aos sábados. O chope Brahma faz jus à boa fama e chega no ponto, com colarinho espesso.
(Fonte: site O Lugarzinho - 28.04.2011 / revista Veja São Paulo - 06.04.2012 / 14.09.2016 / 17.05.2017 e 26.07.2017)
O bar foi aberto por um alemão chamado Paulo e, como não tinha nem nome nem placa, ficou conhecido como Bar do Alemão. O Bar Léo ganhou esse nome na década de 1950 graças ao já falecido curitibano Leopoldo (Léo) Urban, criador também de outras duas choperias no centro — a Amigo Leal, aberta desde 1967 na Rua Amaral Gurgel e ainda em funcionamento, e em 1968 o Bar Barão, que fechou as portas em 2009.
Em 1964, Urban vendeu o negócio a Hermes de Rosa, proprietário de uma mercearia das redondezas e cliente da casa. Nos tempos áureos, ele se orgulhava de servir 500 litros da bebida nas tardes de sábado. Seu chope foi eleito quatro vezes o melhor da cidade na edição “Comer & Beber” de Veja São Paulo, a última delas em 2003.
Mas o famoso estabelecimento já deu suas manquitoladas. Parecia pegadinha antecipada de 1º de abril, Dia da Mentira. No sábado, 31 de março de 2012, os desavisados que foram até a esquina das ruas Aurora e dos Andradas, na região de Santa Ifigênia, não encontraram a festiva muvuca de bebedores na calçada, os garçons apressados, os bolinhos de bacalhau nem, menos ainda, o chope tirado com precisão. Grande instituição botequeira da cidade, o então setentão Bar Léo havia sido fechado no dia anterior por dar um golpe bem baixo na sua fidelíssima freguesia. Com base na denúncia de um cliente, descobriu-se que a casa estava vendendo chope da Ashby (fabricado em Amparo, no interior do estado) como se fosse Brahma, que custava ali (então) inflacionados 6 reais. Devido a problemas também na cozinha, o estabelecimento foi interditado e só voltou a funcionar depois de cumprir as normas da Vigilância Sanitária. Ao contrário do que ocorre na maior parte dos casos de falsificação, os envolvidos não tentaram desmentir as evidências. Espécie de lenda viva do Léo (trabalha lá desde o início da década de 1960), o garçom Luiz de Oliveira, então com 90 anos, contou que o esquema rolava fazia cerca de dois meses. “Sempre fui contra”, afirma ele. A Ashby, que não tem nada a ver com o problema da enganação, confirma o fornecimento do seu produto para lá.
Hermes da Rosa comandou o lugar até morrer, em janeiro de 2003. A viúva, Célia, não era do ramo. Foi aí que entrou em cena sua irmã, Madir Milan, e assumiu o bar. Por ocasião do incidente, nove anos depois, prometeu “levantar o nome do Léo e colocá-lo nos eixos”, declarando: “Será minha última ação pelo bar.” Responsável pela administração do estabelecimento, a empresária Madir Milan, então com 77 anos, admitiu a venda de gato por lebre. Segundo ela, brigas familiares nos últimos anos fizeram o bar acumular dívidas de 400.000 reais, entre encargos trabalhistas, impostos atrasados e empréstimos bancários. “Faltou dinheiro para comprar chope à vista e acabamos apelando para uma opção mais barata”, confessou.
Foram cinco meses de portas baixadas até o grupo Fábrica de Bares, o mesmo do Bar Brahma, assumir o negócio. O constrangedor episódio é uma mancha cada vez mais distante na história do boteco.
Números e fatos fizeram a fama do estabelecimento. Foi eleito quatro vezes o melhor chope da cidade na edição “Comer & Beber” da revista Veja São Paulo, em 1997, 2000, 2001 e 2003. Em seu auge, servia, em média, 1.000 chopes por dia - Numa tarde de sábado de calor, vendia 100 litros de chope por hora.
No início de 2017, o Bar Léo tem uma perda muito sensível: o garçom Luizinho (Luiz de Oliveira), que deu expediente ali por mais de cinco décadas, morreu aos 95 anos.
Também nos primeiros meses de 2017, a casa abre sua primeira filial, na Zona Norte da cidade de São Paulo, na Avenida Braz Leme, 1020, Casa Verde. Não dá para bebericar na calçada, como se faz na unidade do centro. O novo boteco fica dentro de um recém-erguido prédio comercial moderno. Com azulejos nas paredes, prateleiras de madeira escura, vitrais coloridos e canecas doadas pelos clientes, a decoração é semelhante à da casa-mãe e ajuda a quebrar o gelo da localização.
Para dar consistência ao atendimento, o sócio da casa do centro, Sergio Lima, foi escalado para tocar as operações da recente empreitada. Copeiro há mais de 30 anos, Fernando Lopes é outro que vai passar uma temporada na filial.
O cardápio repete as pedidas certeiras do centro, entre elas o bem temperado bolinho de carne, os canapés de copa e pasta de gorgonzola e o bolinho de bacalhau - disponível às quartas e aos sábados. O chope Brahma faz jus à boa fama e chega no ponto, com colarinho espesso.
(Fonte: site O Lugarzinho - 28.04.2011 / revista Veja São Paulo - 06.04.2012 / 14.09.2016 / 17.05.2017 e 26.07.2017)
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