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6 de out. de 2011

DPaschoal

           A DPaschoal foi fundada em Campinas por Donato Paschoal e sua esposa Marcelina, em 1949. Nos primeiros tempos chamava-se Casa dos Pneus.
           Com problemas de saúde, Donato encorajou o filho Norberto para tomar responsabilidade na companhia quando ele tinha 16 anos. Aos 19, Norberto já era diretor de planejamento e, aos 23, quando o pai morreu, ele assumiu a presidência. Norberto Pascoal, que perdeu o "h" no sobrenome por um erro no cartório, sonhava quando criança em ser um engenheiro mecânico. Acabou se formando em design industrial e produção. Em 2009, aos 62, deixou o comando por decisão do conselho de administração da empresa, obedecendo o estatuto da empresa.
           Em janeiro de 2017, Norberto volta ao comando. Segundo ele, os executivos que o sucederam "são boass pessoas" mas não t~em sua visão. Enquanto esteve fora participou do desenvolvimento de um software capaz de promover uma revolução nas lojas da rede. Com investimento de R$ 80 milhões, o software é capaz de evitar a falta de qualquer item e ainda permite ao cliente monitorar os serviços online. Com isso, a redução de custos de que a empresa precisa, estaria mais focada em controles internos do que no corte de pessoal, que faria sucesso em qualquer empresa, mas que não está na cartilha de Norberto. Em 2007, o executivo cortou as comissões dos vendedores, para evitar que a equipe de vendas tivesse a tentação de vender produtos ou servições que os clientes não precisam. Em sua cartilha de trabalho, a preocupação com a questão ambiental vem acima do lucro e da ambição.Em 2017, aos 70, Norberto procura um sucessor. Ele não se considera insubstituível, mas sabe que é uma tarefa difícil achar alguém com suas características.
           Inicialmente ele estava aborrecido por ter herdado um empreendimento comercial. Mas mudou sua ideia após ler um livro de Fernando Pessoa sobre sociologia e marketing. Norberto concluiu, conforme disse certo dia em um discurso, que o sonho de ser engenheiro não podia destruir aquela oportunidade. "Eu tenho que amar o que recebi e fazer algo ainda maior que isso."
           A cadeia automotiva, com sede em Campinas, de uma pequena loja se tornou um conglomerado com mais de 160 lojas próprias e cerca de 500 sob franquia, considerando número de meados de 2017. E receita de R$ 2 bilhões por ano. Além das lojas de serviço, o grupo tem um centro de distribuição de peças (DPK) e um portal web para venda de peças e acessórios (AutoZ), entre outros. Mas a paixão de Norberto é a Daterra, companhia especializada em produção e exportação de café premium, premiado internacionalmente por seu padrão de sustentabilidade. O grupo como um todo emprega 3.500 pessoas.
          Considerando dados de janeiro de 2024, a divisão automotiva da DPaschoal inclui nove marcas, 120 lojas, 28 centros de distribuição de peças em 14 estados, 3 mil funcionários e faturamento de R$ 2,6 bilhões em 2023.
          Este império, conhecido desde 1949 pelos brasileiros que buscam centros de manutenção de automóveis confiáveis, é resultado não apenas da tenacidade e do empreendedorismo que caracterizam alguns empresários brasileiros, mas também de uma longa história de ações ambientais e sociais que só recentemente foram incorporadas por um grande número de empresas.
          À frente da DPaschoal está Luís Norberto Pascoal, filho do fundador. Com uma pausa de oito anos, Pascoal, hoje (janeiro de 2024) com 76 anos, está à frente do DPaschoal desde a morte do pai, aos 23 anos. Ele tentou se aposentar aos 62 anos, mas retomou o comando após tentativas frustradas de encontrar um sucessor. que manteria os valores que incutiu no grupo.
          Uma de suas iniciativas mais inusitadas foi eliminar o desperdício nas lojas: ao perceber que os amortecedores estavam sendo trocados desnecessariamente, visto que o óleo da peça é difícil de quebrar, eliminou a comissão dos vendedores.
          Além da experiência na empresa, onde começou a trabalhar aos 16 anos, e da formação em administração e cursos em Harvard, Pascoal estudou criar ferramentas digitais para compartilhar informações de vendas com fornecedores. "Disseram-me, você enlouqueceu?" ele disse ao Valor.
          Inspirada em grandes varejistas como hipermercados, a solução adotada pelo grupo, que trabalha com mais de 80 mil itens de peças de reposição, facilitou o planejamento da produção na indústria e ajudou a reduzir os estoques, principalmente durante a pandemia.
          Em 22 de janeiro de 2024, a Stellantis, gigante da indústria automotiva, anunciou a aquisição de 70% do negócio automotivo da DPaschoal. A notícia é notável não só porque envolve uma empresa familiar que precisa de um impulso financeiro e uma multinacional que procura diversificar. Ao assumir o controle da DPaschoal, a Stellantis herda um legado de boas práticas sociais e ambientais e de gestão excepcional. O valor da aquisição não foi divulgado.
          A aquisição torna a Stellantis a maior distribuidora de peças automotivas da América do Sul. A gigante, que representa as marcas Fiat, Chrysler, Peugeot e Citröen no Brasil, também adquiriu recentemente a Norauto, grupo de varejo e serviços na Argentina. A ideia é diversificar a mobilidade, segundo o novo presidente da Stellantis na América do Sul, Emanuele Cappellano.
          Norberto Pascoal ficará com os 30% restantes das ações da empresa e estará atento à preservação de seu legado. Além de participação minoritária, o empresário será vice-presidente do conselho de administração.
          O grupo familiar continua com a Daterra, uma fazenda de café. Pascoal também é responsável pela Fundação Educar, que utiliza a leitura como ferramenta de transformação social, e pelo Techno Park, pólo de empresas de base tecnológica localizado em um espaço de desenho urbano que visa preservar um remanescente da Mata Atlântica em região de Campinas, cidade natal de Norberto Pascoal.
(Fonte: jornal Valor international edition - 15.05.2017 / 22.01.2024 - partes)

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