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4 de out. de 2011

Rubaiyat

          Quando deixou a Galícia, no norte da Espanha, em direção a São Paulo, em 1951, Belarmino Iglesias trazia no bolso nada mais que 1 dólar. Projetava uma vida melhor que a dos pais, lavradores na cidadezinha de Rosende. Começou a trabalhar num boteco no Largo do Paiçandu, e logo depois passou a garçom e maître da lendária churrascaria Cabana, no centro de São Paulo.
          Pouco tempo decorreu até aparecer a chance de virar sócio de um restaurante que seria inaugurado - isso em 1957. Era o Rubaiyat. Com tino para os negócios, Iglesias não só expandiu a casa de grelhados e se tornou seu dono, mas a transformou numa rede com unidades paulistanas e uma filial em Buenos Aires, a Cabaña Las Lilas.
          Investiu pesado na matéria-prima. Comprou uma fazenda em Dourados (MS), onde promoveu o melhoramento do gado. Com esses cuidados o Rubaiyat se destacou como o restaurante de carnes com mais vitórias na edição especial Veja Comer & Beber.
          Por volta de maio de 2001, o Rubaiyat dá, podemos dizer assim, um passo muito especial. Os dois Belarminos, o pai e o filho, inauguram um restaurante sob uma figueira. O balé dos manobristas na porta, fazendo desaparecer os carrões sem tumulto, acolhe multidões de clientes dispostos a longas esperas - o restaurante não aceita reservas e pode receber 320 pessoas ao mesmo tempo. Os alegres convivas, ao menos nessa primeira fase, vão lá para se sentir parte de uma experiência na qual a comida é apenas um elemento a mais.
          Parte do frisson mundano que cerca o Figueira Rubaiyat talvez se deva à sua localização e arquitetura. Foi construído em torno de uma centenária figueira na Rua Haddock Lobo, 1738 e é provavelmente o restaurante mais moderno e mais bonito da cidade de São Paulo. Além do delicioso pátio em torno da figueira, todos os ambientes são amplos e luminosos. Através de grandes paredes de vidro, todo mundo se vê e também vê os cenográficos fornos a lenha de onde saem muitos dos pratos.
          Em 2011, Belarmino Iglesias sofreu um AVC que deixou várias sequelas. Nessa época, já havia retornado à Espanha, onde comprou o restaurante Cabo Mayor. Ali fincou a bandeira da internacionalização do Rubaiyat, hoje também presente no Chile e no México, além de Brasília e Rio de Janeiro. Iglesias faleceu em 30 de maio de 2017, aos 85 anos e foi sepultado na pequena Rosende, na Galícia.
(Fonte: revista Exame SP - julho 2001 / revista Veja São Paulo - 07.06.2017)

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