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30 de out. de 2011

Bahia Sul Celulose

          A Bahia Sul Celulose, situada no município de Mucuri, a 870 quilômetros de Salvador, no extremo sul (e litoral) da Bahia, começou a ganhar forma no início de 1985, em um encontro entre Max Feffer, principal acionista da Suzano, e o então presidente da Vale do Rio Doce, Eliezer Batista. Reunidos na sede da Vale, no Rio de Janeiro, eles analisavam a possibilidade de fazer negócios em conjunto. A primeira opção era a participação da Suzano na expansão da Cenibra, a fábrica de celulose mantida pela Vale em sociedade com os japoneses da Japan Brazil Pulp and Paper, em Minas Gerais.
          "De repente deu um estalo: por que não construirmos uma fábrica nova?", conta Boris Tabacof, um dos presentes à reunião, na época diretor administrativo e financeiro da Suzano. Imediatamente, Feffer, Batista e Tabacof se postaram diante de um mapa do Brasil que adornava a sala e começaram a lapidar a ideia. "O projeto poderia ser implantado no sul da Bahia, onde temos uma reserva de eucaliptos", disse Batista. Olhos grudados no mapa, eles localizaram a 300 quilômetros da mata de eucaliptos o porto de Vitória, no Espírito Santo. "Dali poderíamos exportar para os Estados Unidos e a Europa", disse Feffer.
          Lançada a semente do projeto, coube a Tabacof fazê-la germinar. Escolhido pelos sócios para comandar a Bahia Sul, ele tocou toda a montagem da nova empresa e a construção da fábrica.
          A Bahia Sul teve suas obras iniciadas em 1991 e suas atividades tiveram início em 1992, quando começou a produção de celulose, cuja fábrica foi inaugurada em 13 de março de 1992. No ano seguinte, a empresa começou a fabricação de papel em bobina.
          A empresa, porém, se deparou com uma série de percalços. Os maiores problemas apareceram depois do início das obras. O empreendimento foi gerado numa fase de expansão do setor. Mas no desembarque das primeiras máquinas no canteiro de obras, em julho de 1989, o cenário já era adverso. A Bahia Sul foi concebida num momento em que os preços internacionais da celulose estavam estabilizados em torno de 700 dólares a tonelada, e havia uma demanda firme. Por isso, todos os grandes produtores nacionais de celulose e papel procuravam ampliar suas fábricas, atraídos pela perspectiva de crescimento do mercado internacional. Em 1989, os preços caíram pela metade e fizeram as demais empresas recuar. A Bahia Sul, porém, foi em frente.
          Mais de uma vez, a empresa analisou a possibilidade de sustar o projeto, como fizeram os concorrentes. Foram anos atribulados. "Era um pesadelo. Se parássemos, tudo iria por água abaixo", disse Tabacof. Durante a fase de execução do projeto a inflação disparou. Como 52% do investimento eram financiados pelos BNDES, a empresa tinha de correr contra o tempo para não perder dinheiro.
          No canteiro de obras, outras dificuldades tinham de ser superadas pelos 200 homens recrutados na Vale, na Suzano e no mercado para coordenar a implantação do projeto. Chovia copiosamente durante 150 dias por ano na região de Mucuri. O clima é ótimo para as florestas de eucaliptos, mas péssimo para uma obra que chegou a mobilizar 17.000 homens.
          Tão abundantes quanto as chuvas, foram as greves deflagradas no canteiro. Os trabalhadores também sofriam os efeitos da corrosão da moeda e sua insatisfação era capitalizada por uma ativa liderança sindical que se instalou na região em função do projeto. Ao todo, foram 89 dias de paralização.
          Com capacidade para produzir 500.000 toneladas anuais de celulose e 250.000 de papel, a Bahia Sul aproximava-se, em 1994, da plena carga e já elaborava projeto de expansão. Mas, até 1993 todas as energias estavam concentradas na solução dos problemas financeiros. A empresa precisava pagar 220 milhões de dólares de juros e amortizações dos financiamentos contraídos para construir a fábrica. As receitas, porém, não eram suficientes e a empresa partiu para a emissão de debêntures, mas o ano de 1993 foi fechado com 91 milhões de dólares de prejuízo.
          A empresa era controlada pela Companhia Suzano de Papel e Celulose (CSPC), que detinha 55% das ações ordinárias. A Companhia Vale do Rio Doce, na época também conhecida pela sigla CVRD (hoje Vale) era detentora dos 45% restantes do capital da Bahia Sul.
          Além da queda do preço da tonelada de celulose no mercado internacional nos anos iniciais de atividade da empresa, a inflação tratou de corroer os recursos liberados pelo BNDES, que financiou 52% do projeto. "A tempestade nos pegou no meio do caminho", disse Adhemar Magon, diretor financeiro da Suzano. No início de 1997, quase cinco anos depois do início de suas atividades, a Bahia Sul tinha a maior dívida entre todas as companhias do setor de celulose: 1 bilhão de dólares.
          Em 2001, a Suzano compra as ações da Bahia Sul que pertenciam à Vale e unifica a gestão de todas as suas unidades.
           Já com relação à turbulência de 2002 e 2003, a empresa foi pouco afetada, pois, exporta quase toda a sua produção, conforme explica Bernardo Szpigel, diretor financeiro, e os investimentos na fábrica de Mucuri, já estavam quase totalmente concluídos. Em setembro de 2003, a Bahia Sul acumulava dívida de 1,2 bilhão de reais, inferior à dívida de 1,5 bilhão do final de 2002.
(Fonte: revista Exame - 20.07.1994 / revista Investimentos - 02.12.1996 / Exame - 12.02.1997 / Investimentos - 18.02.2004 - partes)

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