A primavera se anunciava em setembro de 1864, no Rio de Janeiro. Ainda não existia a semana inglesa, e os sábados eram dias úteis, de expediente integral. Na manhã do dia 10, um sábado, iniciava-se a maior crise financeira já ocorrida no Brasil. A Casa Bancária A.J. Alves Souto & Cia., instituição mais importante na época, secundando o Banco do Brasil, não abriu suas portas e suspendeu os pagamentos.
A notícia teve o impacto de um tsunami e detonou corrida bancária jamais vista. O tumulto no centro da cidade perdurou pelas semanas seguintes. Só foi controlado com a presença de tropas enviadas pelo governo imperial que, por sua vez, também decretou moratória geral por 60 dias.
Os números daquela falência são espantosos. A casa tinha cerca do 10 mil clientes, correspondentes a aproximadamente 5% da população do Rio de Janeiro, estimada em 200 mil habitantes naquela ano. O passivo foi calculado em 6,35 milhões de libras esterlinas, equivalentes à metade da dívida pública interna.
O pânico levou de roldão algumas casas bancárias de importância e mais uma centena de estabelecimentos comerciais, em autêntico efeito dominó. O próprio Banco do Brasil se viu abalado, pois, na tentativa de evitar a catástrofe, havia socorrido a casa Souto em volumes superiores a 50% de seu patrimônio liquido.
O personagem central daquele episódio, Antônio José Alves Souto, era um homem de grande projeção no mercado do Rio de Janeiro. Corretor de Bolsa, foi signatário da criação da Junta de Corretores, em 1850, documento inicial do longo processo de separação entre a Bolsa do Rio e a Associação Comercial, que a abrigava desde 1820.
Amigo e vizinho de D. Pedro II, na Quinta da Boa Vista, costumava se reunir com o Imperador para disputar partidas de xadrez. O rei de Portugal, país onde nascera, o nomeou Visconde de Souto. Sua opulência era marcada por um jardim zoológico particular, instalado na chácara em que residia e aberto ao público nos fins de semana.
Como sempre após as crises, fizeram-se inquéritos e investigações, mas nada foi levantado de desabonador ao Visconde de Souto. Sem o patrimônio que acumulara, então vendido para o pagamento de dívidas, mas com a reputação preservada, faleceu em 1880.
A quebra da Casa Bancária A.J. Alves Souto foi apenas um aperitivo para a quebradeira de bancos em 1890, durante o período chamado Encilhamento, em que o ministro da fazenda era nada menos que Rui Barbosa. Ele acreditou ser capaz de resolver um crônico problema da economia - a falta de capitais - pela simples fabricação de dinheiro em papel. Abandonando a premissa que a quantidade de dinheiro em circulação deveria refletir exatamente as reservas do país em ouro, Rui Barbosa alterou esse parâmetro ao autorizar a criação de dez novos bancos, que, distribuídos pelas diferentes regiões, poderiam fazer emissões lastreadas em títulos da dívida pública federal. A maioria dos bancos quebrou sem honrar seus compromissos.
(Fonte: revista Capital Aberto - setembro 2010 - autor: Ney Carvalho / livro - 1889 - Laurentino Gomes)
A notícia teve o impacto de um tsunami e detonou corrida bancária jamais vista. O tumulto no centro da cidade perdurou pelas semanas seguintes. Só foi controlado com a presença de tropas enviadas pelo governo imperial que, por sua vez, também decretou moratória geral por 60 dias.
Os números daquela falência são espantosos. A casa tinha cerca do 10 mil clientes, correspondentes a aproximadamente 5% da população do Rio de Janeiro, estimada em 200 mil habitantes naquela ano. O passivo foi calculado em 6,35 milhões de libras esterlinas, equivalentes à metade da dívida pública interna.
O pânico levou de roldão algumas casas bancárias de importância e mais uma centena de estabelecimentos comerciais, em autêntico efeito dominó. O próprio Banco do Brasil se viu abalado, pois, na tentativa de evitar a catástrofe, havia socorrido a casa Souto em volumes superiores a 50% de seu patrimônio liquido.
O personagem central daquele episódio, Antônio José Alves Souto, era um homem de grande projeção no mercado do Rio de Janeiro. Corretor de Bolsa, foi signatário da criação da Junta de Corretores, em 1850, documento inicial do longo processo de separação entre a Bolsa do Rio e a Associação Comercial, que a abrigava desde 1820.
Amigo e vizinho de D. Pedro II, na Quinta da Boa Vista, costumava se reunir com o Imperador para disputar partidas de xadrez. O rei de Portugal, país onde nascera, o nomeou Visconde de Souto. Sua opulência era marcada por um jardim zoológico particular, instalado na chácara em que residia e aberto ao público nos fins de semana.
Como sempre após as crises, fizeram-se inquéritos e investigações, mas nada foi levantado de desabonador ao Visconde de Souto. Sem o patrimônio que acumulara, então vendido para o pagamento de dívidas, mas com a reputação preservada, faleceu em 1880.
A quebra da Casa Bancária A.J. Alves Souto foi apenas um aperitivo para a quebradeira de bancos em 1890, durante o período chamado Encilhamento, em que o ministro da fazenda era nada menos que Rui Barbosa. Ele acreditou ser capaz de resolver um crônico problema da economia - a falta de capitais - pela simples fabricação de dinheiro em papel. Abandonando a premissa que a quantidade de dinheiro em circulação deveria refletir exatamente as reservas do país em ouro, Rui Barbosa alterou esse parâmetro ao autorizar a criação de dez novos bancos, que, distribuídos pelas diferentes regiões, poderiam fazer emissões lastreadas em títulos da dívida pública federal. A maioria dos bancos quebrou sem honrar seus compromissos.
(Fonte: revista Capital Aberto - setembro 2010 - autor: Ney Carvalho / livro - 1889 - Laurentino Gomes)
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