Lançada em 1899, pela Bayer - então uma pequena empresa química de Wuppertal, na Alemanha -, a Aspirina logo de início foi incorporada à cultura europeia, sendo consumida por milhares de vítimas da pandemia de gripe que assolou vários países por volta de 1900.
A Bayer não precisou se preocupar em criar nome forte e ao mesmo tempo novo e que evitasse a referência direta à ação terapêutica. As autoridades reguladoras ainda não estavam tão atuantes no tocante ao nome. Mas a Bayer teve alguns dilemas. Por motivos óbvios, o comprimido não poderia ser vendido com seu nome genérico - ácido acetilsalicílico. O nome comercial, então, surgiu com base na planta Spiraea, uma das fontes da salicina. O "A" vem do ácido acetil, e o sufixo "ina", comum na indústria farmacêutica, visava a tornar o nome mais sonoro.
Houve uma resistência inicial dos diretores da Bayer, porque Aspirina lembrava aspiration (inalação em inglês) - uma ideia errada para um medicamento ingerido oralmente. Mas, no fim, o nome foi aprovado (talvez pelo outro significado de aspiration, o forte desejo de conquistas) e consagrou-se internacionalmente porque naqueles anos, o sistema de proteção legal às patentes, base da inovação capitalista, começava a funcionar.
A campanha de marketing agressiva feita pela Bayer em 1910 mudou a natureza da indústria farmacêutica. A empresa se opôs à American Medical Association e difundiu para o público a relação entre seu mais famoso produto, a aspirina, e o nome da marca.
Nas décadas seguintes, a Aspirina firmou-se como um medicamento das massas, usado para aliviar todo tipo de dor. A aspirina, enfim, entrou para a história como uma das grandes invenções da humanidade - e ajudou a colocar a Bayer no primeiro pelotão das grandes corporações, com uma das trajetórias mais longevas do capitalismo mundial.
No clássico A Rebelião das Massas, o filósofo espanhol José Ortega Y Gasset (1883-1955) retrata as grandes transformações do século XX, dando ênfase ao crescimento das populações urbanas. Em um dos trechos, ele destaca as principais invenções que ajudaram a revolucionar a vida do homem comum naquele momento histórico. Diz: "Que lhe importa não ser mais rico que outros, se o mundo é e lhe proporciona magníficas estradas de rodagem e de ferro, telégrafos, hotéis, segurança física e aspirina?"
Os efeitos analgésicos do ácido acetilsalicílico são conhecidos desde antes de Cristo - naquela época, o princípio ativo era obtido em folhas de salgueiro. Se tivesse funcionado antes, talvez o mérito fosse do grego Hipócrates (460-377 a.C), considerado o pai da medicina, o primeiro a notar que o ato de mascar folha do salgueiro-branco tinha efeito analgésico. O que há nas folhas do salgueiro? A salicina, o princípio ativo da Aspirina.
No Brasil, a Aspirina chega na década de 1920 e o analgésico repete o sucesso que fez no exterior. Uma ideia sobre sua distribuição no interior do Nordeste pode ser vista no filme Cinema, Aspirinas e Urubus (2005), do diretor Marcelo Gomes, que se passa em 1942.
A Aspirina é um exemplo de remédio antigo que ganha novo uso. Sua ação só foi explicada nos anos 1970. Passou a ser indicado para evitar a recorrência de infartos.
(Fonte: revista Exame 15.12.1999 / revista Veja - 26.07.2006 revista Época - 03.11.2008 / revista Época Negócios - setembro 2015 - partes)
A Bayer não precisou se preocupar em criar nome forte e ao mesmo tempo novo e que evitasse a referência direta à ação terapêutica. As autoridades reguladoras ainda não estavam tão atuantes no tocante ao nome. Mas a Bayer teve alguns dilemas. Por motivos óbvios, o comprimido não poderia ser vendido com seu nome genérico - ácido acetilsalicílico. O nome comercial, então, surgiu com base na planta Spiraea, uma das fontes da salicina. O "A" vem do ácido acetil, e o sufixo "ina", comum na indústria farmacêutica, visava a tornar o nome mais sonoro.
Houve uma resistência inicial dos diretores da Bayer, porque Aspirina lembrava aspiration (inalação em inglês) - uma ideia errada para um medicamento ingerido oralmente. Mas, no fim, o nome foi aprovado (talvez pelo outro significado de aspiration, o forte desejo de conquistas) e consagrou-se internacionalmente porque naqueles anos, o sistema de proteção legal às patentes, base da inovação capitalista, começava a funcionar.
A campanha de marketing agressiva feita pela Bayer em 1910 mudou a natureza da indústria farmacêutica. A empresa se opôs à American Medical Association e difundiu para o público a relação entre seu mais famoso produto, a aspirina, e o nome da marca.
Nas décadas seguintes, a Aspirina firmou-se como um medicamento das massas, usado para aliviar todo tipo de dor. A aspirina, enfim, entrou para a história como uma das grandes invenções da humanidade - e ajudou a colocar a Bayer no primeiro pelotão das grandes corporações, com uma das trajetórias mais longevas do capitalismo mundial.
No clássico A Rebelião das Massas, o filósofo espanhol José Ortega Y Gasset (1883-1955) retrata as grandes transformações do século XX, dando ênfase ao crescimento das populações urbanas. Em um dos trechos, ele destaca as principais invenções que ajudaram a revolucionar a vida do homem comum naquele momento histórico. Diz: "Que lhe importa não ser mais rico que outros, se o mundo é e lhe proporciona magníficas estradas de rodagem e de ferro, telégrafos, hotéis, segurança física e aspirina?"
Os efeitos analgésicos do ácido acetilsalicílico são conhecidos desde antes de Cristo - naquela época, o princípio ativo era obtido em folhas de salgueiro. Se tivesse funcionado antes, talvez o mérito fosse do grego Hipócrates (460-377 a.C), considerado o pai da medicina, o primeiro a notar que o ato de mascar folha do salgueiro-branco tinha efeito analgésico. O que há nas folhas do salgueiro? A salicina, o princípio ativo da Aspirina.
No Brasil, a Aspirina chega na década de 1920 e o analgésico repete o sucesso que fez no exterior. Uma ideia sobre sua distribuição no interior do Nordeste pode ser vista no filme Cinema, Aspirinas e Urubus (2005), do diretor Marcelo Gomes, que se passa em 1942.
A Aspirina é um exemplo de remédio antigo que ganha novo uso. Sua ação só foi explicada nos anos 1970. Passou a ser indicado para evitar a recorrência de infartos.
(Fonte: revista Exame 15.12.1999 / revista Veja - 26.07.2006 revista Época - 03.11.2008 / revista Época Negócios - setembro 2015 - partes)
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