O empresário Edson Mororó Moura, em parceria com sua mulher, Conceição Viana, fundou a Baterias Moura em 1957, quando o químico industrial, falecido em 2009 com 79 anos, lançou-se ao desafio de produzir baterias de automóveis.
A cidade sede, Belo Jardim, fica incrustada numa das áreas mais áridas do Nordeste. Mas Belo Jardim não surpreende apenas por seus problemas com a seca cruel. É de lá que sai (dados de outubro de 1999) um quarto de todas as baterias de automóveis produzidas no Brasil: os 2,5 milhões de unidades fabricadas anualmente pela Baterias Moura, grupo local que ergueu em Belo Jardim a maior indústria de acumuladores da América Latina.
A própria Moura é, em si mesma, um caso surpreendente. Surgiu do nada, em 1957, quando havia na cidade apenas um carro e não mais que 700.000 veículos rodavam no resto do país. Desde então, escreveu uma história na qual a mistura de criatividade e audácia, especialmente nos momentos de crise, tem garantido à empresa avançar num dos setores mais competitivos da economia. No Brasil existiam em 1999 cerca de 200 fabricantes de baterias, mas apenas três dominavam o mercado. Entre essas, somente uma não pertence a grupo multinacional - a própria Moura, líder no segmento de reposição. As outras são a americana Delphi, dona da marca Delco, e a Enertec, uma associação de capitais americanos, alemães e mexicanos, da Satúrnia e da Heliar.
Nascido em Belo Jardim, Moura era apenas um recém-formado pela antiga Escola Superior de Química de Recife quando apostou suas fichas numa ideia do mecânico Agripino Gonçalves Farias, na época funcionário de uma fábrica de doces de sua família: produzir baterias para automóveis, com a reciclagem das placas de chumbo de baterias usadas. Logo o projeto se revelari uma miss~~ao inglória no sertão, por falta de profissionais especializados e fontes de suporte. Mesmo assim, Mour resoveu ir em frnte, buscando em São Paulo o que lhe faltava, de um jeito insólito.
O que terá pensado, por exemplo, o italiano Aldo Rabioglio, presidente da Satúrnia, então a maior fábrica de baterias do país, quando descobriu que o jovem estagiário que vierq de Pernambuco não era nenhum professor de química e sim um empreendedor que se preparava para lhe fazer concorrência? A bem da verdade, é preciso dizer que foi o próprio Moura quem revelou ao empresário o real objetivo desua presença, omitido na carta de apresentação da Escola Superior de Química. Mas o estágio, no qual a Satúrnia se propunha até a pagar a conta do hotel, obviamente foi cancelado. Em São Paulo, Moura ainda comprou algumas máquinas de uma fabriqueta de baterias falida e, ao custo de muitas promessas, acabou convencendo um operário especializado a seguir com ele para Belo Jardim.
A Moura só não faliu em 1962 porque uma ideia simples, porém genial, resgatou-a do fundo do poço. "Se o chumbo utilizado nas baterias não trazia dinheiro, por que não utilizá-lo para fabricar cartuchos de rifles e espingardas?, pensou Moura. Foi um achado. Numa época em que a caça era largamente praticada no Nordeste, inclusive como meio de sobrevivência em algumas áreas, a Moura vendeu munição como água, capitalizando-se ao ponto de, em 1967, arriscar um investimento de 1 milhão de dólares, em dinheiro da época, numa nova fábrica de baterias, financiada pelo Banco do Nordeste. Com uso de máquinas importadas dos Estados Unidos, a produção aumentou de pífias 50 unidades por mês para 5.000 baterias. Além disso, o produto da Moura ganhou qualidade passou a competir com a Satúrnia, então campeã de vendas.
Ironicamente, esse salto abriu caminho para uma das piores crises da empresa, no início dos anos 1970, resultado de sua inexperiência em negócios de larga escala. Na ânsia de ampliar as vendas de qualquer jeito, a empresa acabou levando um tombo que por pouco não a liquidou. Muitos clientes ficaram inadimplentes e, no sufoco, a Moura teve de desfazer-se até dos carros da diretoria. Mais uma vez, o pragmatismo do velho Moura impediu que a empresa fosse à lona. Com o intuito de fazer dinheiro com rapidez, durante algum tempo a Moura colocou em segundo plano sua própria linha de baterias, tornando-se a maior fornecedora de caixas de ebonite - usadas na época para acondicionar os componentes das baterias - par concorrentes de pequeno e médio portes.
A empresa só retomaria o crescimento na década de 1980, começando pela montagem de uma rede nacional de 40 centros de distribuição, em parceria com empresários locais. Foi um estouro. A Moura chegou a ter 40% do mercado de reposição. Chegou a 4.000 pontos-de-venda no país em 1999.
Em 1999 já estava em curso a luta sucessória da empresa, há algum tempo protagonizada pelo primogênito Edson Viana Moura, o engenheiro Edinho, e pelo também engenheiro Paulo Gomes Sales, casado com a filha de Edson, Maria da Conceição. Edinho, diretor comercial da Moura, achava que estava na hora de mudar antigas posturas, sob pena de comprometer o futuro da empresa. Mas, foi o genro, Paulo Gomes Sales, diretor financeiro da Moura, quem comandou o processo de enxugamento da Moura e, habilmente realizou uma proeza até então impensável: tirar da sogra, a também engenheira química Conceição, a chave do cofre da empresas. Conceição era a conhecida pelo apelido de "Dona Biônica", por sua incrível capacidade de controle sobre tudo e todos na Moura. Com a implantação do sistema de unidades de negócio, com autonomia para definir seus próprios gastos, Dona Biônica achou melhor dedicar mais tempo à sua loja de antiguidades.
Na área industrial, coube a Sérgio, outro filho de Edson, tocar as mudanças, especialmente quanto aos recursos humanos.
Um nó crucial para a Moura, no entanto, dificilmente será desatado enquanto o fundador continuar dando as cartas: a necessidade de encontrar parceiros capitalistas que permitam à companhia fazer lances mais audaciosos no mercado global. a hipótese já fora levantada em reuniões internas por Sales e por Edinho. Em vão. Nacionalista e crítico do capitalismo global, o velho Moura rebate com o jargão esquerdista de que a globalização é o novo nome do imperialismo americano e põe em dúvida o resultado das associações. "As multinacionais têm dinheiro, mas não têm eficiência", afirma. "concorremos com três e vamos muito bem."
Edson Mororó Moura, morreu em 2009, com 79 anos.
Com cinco fábricas, quatro em Belo Jardim (PE) e uma em Itapetininga (SP), além de uma unidade de assistência às montadoras, em Belo Horizonte (MG), a Baterias Moura equipa 50% dos carros produzidos no Brasil. Volkswagen, Ford, Renault, Fiat, Mercedes-Benz e Iveco usam os acumuladores Moura como peça original de fábrica.
De olho no crescimento da mobilidade elétrica e nas necessidades cada vez maiores de soluções que estabilizem a energia gerada por fontes intermitentes, a Baterias Moura desenvolveu sua tecnologia para baterias para armazenamento de energia elétrica, a primeira fabricada no Brasil.
Com cinco fábricas, quatro em Belo Jardim (PE) e uma em Itapetininga (SP), além de uma unidade de assistência às montadoras, em Belo Horizonte (MG), a Baterias Moura equipa 50% dos carros produzidos no Brasil. Volkswagen, Ford, Renault, Fiat, Mercedes-Benz e Iveco usam os acumuladores Moura como peça original de fábrica.
De olho no crescimento da mobilidade elétrica e nas necessidades cada vez maiores de soluções que estabilizem a energia gerada por fontes intermitentes, a Baterias Moura desenvolveu sua tecnologia para baterias para armazenamento de energia elétrica, a primeira fabricada no Brasil.
(Fonte: jornal Folha de S.Paulo - 15.01.2009 / Valor - 27.05.2019 - partes)
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