Era 2003, quando os
gêmeos Gabriel e Mateus Lana e o colega de classe Gabriel Silva preparavam o
trabalho de conclusão de curso da escola técnica de formação gerencial do
Sebrae, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, os três tinham
de 16 para 17 anos e receberam a tarefa de criar uma marca e desenvolvê-la em
todas as etapas do negócio. "Enquanto nossos colegas bolavam redes de shopping center ou montadoras de
automóvel, a gente decidiu que queria uma coisa mais simples", conta Gabriel
Lana. Chegaram a pensar em um projeto de padaria, mas acabaram optando por uma
marca de cachaça por causa de um primo que tinha contatos em alambiques de
Presidente Bernardes. O município da Zona da Mata mineira, a 187 km da capital,
organiza anualmente um Festival da Cana, já em sua 29ª edição. E o tal primo,
Rafael Vidigal, então com 24 anos, era o único dos quatro com alguma experiência
em levantamento de copinhos do destilado.
Para deixar claro aos professores seu empenho no exercício, o quarteto registrou a branquinha no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi). Como os estudantes eram menores de idade, a patente foi pedida em nome do pai dos gêmeos, seu Joel, que ainda pingou R$ 600 para custear a burocracia. Naquele momento, os empreendedores mirins - que após a formatura decidiram produzir a bebida de verdade para animar as festas e vendê-la aos amigos - nem suspeitavam que o registro salvaria a pele deles na Justiça. Temor que ainda existe e talvez explique a espécie de amnésia alcoólica que os acomete quando perguntados sobre as exatas circunstâncias em que o nome surgiu. "Cada um tem uma história, até o Rafa, que nem estava presente quando a gente escolheu", desconversa Gabriel.
Eles contam que o conceito foi destilado em parceria com a agência júnior de comunicação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), também composta por estudantes. O "andante" do nome seria um mix de sertanejo com caixeiro-viajante, que traz produtos da roça para a cidade grande. Em vez de paródia brasuca de John Walker, de cuja mercearia em Ayrishire saíram, ainda no século XIX, as primeiras garrafas do cultuado uísque escocês, a inspiração estaria no prosaico Jeca Tatu, de Monteiro Lobato. E no andarilho mineiro Juquinha da Serra, que vagava pela região da Serra do Cipó e lá ganhou uma estátua - até agora imóvel, ao contrário do gigante de pedra que sai andando naquela propaganda que diz "keep walking".
Além disso, reforçam os meninos, a figura impressa na garrafa teria sido copiada do quadro Don Quixote, pintado por Pablo Picasso em 1955. "Uma imagem de domínio público", ressalta outro Gabriel, o Silva: "A cabeça é igualzinha, a espada virou um pedaço de pau e o escudo, uma trouxinha". Uma argumentação, portanto, na linha no copyleft, o movimento mundial que questiona as leis de direito autoral em nome da criatividade e do sample de ideias.
Em maio de 2014, porém, os donos da cachaça mineira João Andante lançam, durante a Expocachaça, em Belo Horizonte (MG), a marca O Andante. O novo nome vai substituir a João Andante depois de a empresa perder um processo para a gigante Diageo, holding que é dona do uísque Johnnie Walker.
Criada em 2008, a João Andante foi acusada de plágio pela Diageo, que levou o caso ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi).
A acusação foi baseada no fato de o nome João Andante ser uma tradução literal da marca de uísque e de o rótulo trazer o desenho de um personagem semelhante ao da Johnnie Walker. A garrafa de uísque traz a imagem de um lorde inglês, com chapéu e bengala, caminhando. O rótulo da João Andante tem o desenho que mistura o matuto Jeca Tatu, um dos personagens criados pelo escritor Monteiro Lobato, e o andarilho Juquinha, antigo morador que ficou famoso na Serra do Cipó. Ele caminha carregando uma trouxa de roupas nas costas. No rótulo novo, as pernas do personagem foram cortadas.
A Diageo ganhou o processo em primeira instância, mas a empresa mineira vai entrar com recurso. Por enquanto, porém, não poderá usar o nome João Andante em novos rótulos.
(Fonte: Jornal o Estado de S. Paulo - edição eletrônica / UOL Economia maio 2014)
Para deixar claro aos professores seu empenho no exercício, o quarteto registrou a branquinha no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi). Como os estudantes eram menores de idade, a patente foi pedida em nome do pai dos gêmeos, seu Joel, que ainda pingou R$ 600 para custear a burocracia. Naquele momento, os empreendedores mirins - que após a formatura decidiram produzir a bebida de verdade para animar as festas e vendê-la aos amigos - nem suspeitavam que o registro salvaria a pele deles na Justiça. Temor que ainda existe e talvez explique a espécie de amnésia alcoólica que os acomete quando perguntados sobre as exatas circunstâncias em que o nome surgiu. "Cada um tem uma história, até o Rafa, que nem estava presente quando a gente escolheu", desconversa Gabriel.
Eles contam que o conceito foi destilado em parceria com a agência júnior de comunicação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), também composta por estudantes. O "andante" do nome seria um mix de sertanejo com caixeiro-viajante, que traz produtos da roça para a cidade grande. Em vez de paródia brasuca de John Walker, de cuja mercearia em Ayrishire saíram, ainda no século XIX, as primeiras garrafas do cultuado uísque escocês, a inspiração estaria no prosaico Jeca Tatu, de Monteiro Lobato. E no andarilho mineiro Juquinha da Serra, que vagava pela região da Serra do Cipó e lá ganhou uma estátua - até agora imóvel, ao contrário do gigante de pedra que sai andando naquela propaganda que diz "keep walking".
Além disso, reforçam os meninos, a figura impressa na garrafa teria sido copiada do quadro Don Quixote, pintado por Pablo Picasso em 1955. "Uma imagem de domínio público", ressalta outro Gabriel, o Silva: "A cabeça é igualzinha, a espada virou um pedaço de pau e o escudo, uma trouxinha". Uma argumentação, portanto, na linha no copyleft, o movimento mundial que questiona as leis de direito autoral em nome da criatividade e do sample de ideias.
Em maio de 2014, porém, os donos da cachaça mineira João Andante lançam, durante a Expocachaça, em Belo Horizonte (MG), a marca O Andante. O novo nome vai substituir a João Andante depois de a empresa perder um processo para a gigante Diageo, holding que é dona do uísque Johnnie Walker.
Criada em 2008, a João Andante foi acusada de plágio pela Diageo, que levou o caso ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi).
A acusação foi baseada no fato de o nome João Andante ser uma tradução literal da marca de uísque e de o rótulo trazer o desenho de um personagem semelhante ao da Johnnie Walker. A garrafa de uísque traz a imagem de um lorde inglês, com chapéu e bengala, caminhando. O rótulo da João Andante tem o desenho que mistura o matuto Jeca Tatu, um dos personagens criados pelo escritor Monteiro Lobato, e o andarilho Juquinha, antigo morador que ficou famoso na Serra do Cipó. Ele caminha carregando uma trouxa de roupas nas costas. No rótulo novo, as pernas do personagem foram cortadas.
A Diageo ganhou o processo em primeira instância, mas a empresa mineira vai entrar com recurso. Por enquanto, porém, não poderá usar o nome João Andante em novos rótulos.
(Fonte: Jornal o Estado de S. Paulo - edição eletrônica / UOL Economia maio 2014)
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