No primeiro número, em 4 de janeiro de 1966, o "Jornal da Tarde" publicou na primeira página uma notícia exclusiva - um "furo", no jargão jornalístico - de grande repercussão: "Pelé casa no Carnaval". O resto da imprensa só tinha uma vaga ideia do namoro de Pelé.
O "Jornal da Tarde" se propôs a sair às 15 horas. Criado a partir de um sonho que Julio Mesquita Filho cultivava desde a Primeira Guerra Mundial - fazer um vespertino - o projeto foi delegado a seu segundo filho, Ruy Mesquita, que também deu nome à ideia, escolhendo Jornal da Tarde porque dessa forma soava melhor. Ruy Mesquita reconheceria que cometeram um erro tático. Pouco depois do lançamento verificou-se que não havia espaço para vender um jornal que chegava às bancas às 15 horas, que fechavam às 18h30. O "JT" foi penalizado para não concorrer com o "Estado" e só muito tempo depois conseguiu-se fazer com que o jornal fosse para as bancas junto com os outros. Mas, permaneceu com o nome de sua vocação vespertina. Começou imprimindo 50 mil exemplares, mas o "encalhe" - exemplares não vendidos - foi bastante elevado. Cortou a tiragem para 30 mil, número que foi crescendo paulatinamente.
Em 1968, Mino Carta saiu para lançar a revista "Veja", levando vários dos melhores jornalistas do "JT". Seu lugar foi ocupado pelo secretário de redação, Murilo Felisberto.
Politicamente, o jornal continuava na vanguarda da linha dura. Achava que quando os militares assumiram o poder o presidente Castelo Branco deveria ter baixado um decreto dizendo: "Está suspensa pelo tempo que a Revolução julgar necessário a prática do regime democrático. Revogam-se as disposições em contrário". E escrevia: "A tão falada 'redemocratização' só poderá ser feita através da implantação total e definitiva da Revolução".
O rompimento com o governo se deu quando o "Jornal da Tarde" e "O Estado de S. Paulo" perceberam que seus conselhos não eram ouvidos. Ao ser decretado o ato institucional nº 5, em dezembro de 1968, "O Estado de S. Paulo" publicou um editorial, "Instituições em frangalhos", de crítica ao governo. O jornal foi apreendido. O "JT" disse: "Sendo um regime intrinsecamente ditatorial - para não dizer totalitário - todas as vezes em que tenta fazê-lo funcionar como a democracia que ostenta no rótulo acontecerá o que acaba de acontecer agora". Era "mais uma demonstração da inviabilidade do regime".
Durante quatro anos o jornal obedecera às instruções de censura. Até que, com o "Estado", em setembro de 1972, foi informado pela Polícia Federal, que ficava "proibida, pelo ministro de Justiça, a entrevista de Roberto Campos". Ruy Mesquita enviou um telegrama ao ministro Alfredo Buzaid:
"Senhor ministro, ao tomar conhecimento dessas ordens emanadas de V.Sa., o meu sentimento foi de profunda humilhação e vergonha. Senti vergonha, Senhor Ministro, pelo Brasil, degradado à condição de uma republiqueta de banana ou de uma Uganda qualquer, por um governo que acaba de perder a compostura. Parece incrível que os que decretam hoje o ostracismo forçado dos próprios companheiros de Revolução, que ocuparam ontem cargos em que se encontram hoje, não cogitem cinco minutos do julgamento do história (...) o Brasil ficará sabendo a verdadeira história desse período em que a Revolução de 64 abandonou os rumos traçados pelo seu maior líder, o Marechal Castelo Branco, para enveredar pelos rumos de um caudilhismo militar que está fora de moda, inclusive nas repúblicas hispano-americanas. Cheio de vergonha de meu País degradado a essa condição, subscrevo-me humilhado".
Muito tempo se passou com períodos áureos, mas o "JT" passou a sofrer um declínio acentuado, até decidir pelo fechamento. Em 1992, a circulação girava em torno de 100 mil exemplares mas caiu ano a ano e em 2001, atingiu 53 mil exemplares. Em 2002, após mudanças no ano anterior, a circulação voltou a subir lentamente. Mas, nos anos seguintes, voltou a declinar, chegando a 37 mil. De 110 pessoas em 2010, contava com 44 no dia do fechamento, das quais 20 seriam aproveitadas pelo grupo. O "Jornal do Carro" passou a ser publicado pelo "Estado".
O "Jornal da Tarde", que acumulou 24 Prêmios Esso, de 1966 a 1995, circulou pela última vez na quarta-feira, dia 31 de outubro de 2012. Terminou uma das mais fascinantes aventuras do jornalismo brasileiro no último meio século. Foi um jornal irreverente, ousado na forma, inovador no desenho gráfico e cuidadoso com o texto.
(Fonte: jornal Valor - 01.11.2012 - Matías M. Molina - parte/jornal O Estado de S.Paulo 31.10.2012)
O "Jornal da Tarde" se propôs a sair às 15 horas. Criado a partir de um sonho que Julio Mesquita Filho cultivava desde a Primeira Guerra Mundial - fazer um vespertino - o projeto foi delegado a seu segundo filho, Ruy Mesquita, que também deu nome à ideia, escolhendo Jornal da Tarde porque dessa forma soava melhor. Ruy Mesquita reconheceria que cometeram um erro tático. Pouco depois do lançamento verificou-se que não havia espaço para vender um jornal que chegava às bancas às 15 horas, que fechavam às 18h30. O "JT" foi penalizado para não concorrer com o "Estado" e só muito tempo depois conseguiu-se fazer com que o jornal fosse para as bancas junto com os outros. Mas, permaneceu com o nome de sua vocação vespertina. Começou imprimindo 50 mil exemplares, mas o "encalhe" - exemplares não vendidos - foi bastante elevado. Cortou a tiragem para 30 mil, número que foi crescendo paulatinamente.
Em 1968, Mino Carta saiu para lançar a revista "Veja", levando vários dos melhores jornalistas do "JT". Seu lugar foi ocupado pelo secretário de redação, Murilo Felisberto.
Politicamente, o jornal continuava na vanguarda da linha dura. Achava que quando os militares assumiram o poder o presidente Castelo Branco deveria ter baixado um decreto dizendo: "Está suspensa pelo tempo que a Revolução julgar necessário a prática do regime democrático. Revogam-se as disposições em contrário". E escrevia: "A tão falada 'redemocratização' só poderá ser feita através da implantação total e definitiva da Revolução".
O rompimento com o governo se deu quando o "Jornal da Tarde" e "O Estado de S. Paulo" perceberam que seus conselhos não eram ouvidos. Ao ser decretado o ato institucional nº 5, em dezembro de 1968, "O Estado de S. Paulo" publicou um editorial, "Instituições em frangalhos", de crítica ao governo. O jornal foi apreendido. O "JT" disse: "Sendo um regime intrinsecamente ditatorial - para não dizer totalitário - todas as vezes em que tenta fazê-lo funcionar como a democracia que ostenta no rótulo acontecerá o que acaba de acontecer agora". Era "mais uma demonstração da inviabilidade do regime".
Durante quatro anos o jornal obedecera às instruções de censura. Até que, com o "Estado", em setembro de 1972, foi informado pela Polícia Federal, que ficava "proibida, pelo ministro de Justiça, a entrevista de Roberto Campos". Ruy Mesquita enviou um telegrama ao ministro Alfredo Buzaid:
"Senhor ministro, ao tomar conhecimento dessas ordens emanadas de V.Sa., o meu sentimento foi de profunda humilhação e vergonha. Senti vergonha, Senhor Ministro, pelo Brasil, degradado à condição de uma republiqueta de banana ou de uma Uganda qualquer, por um governo que acaba de perder a compostura. Parece incrível que os que decretam hoje o ostracismo forçado dos próprios companheiros de Revolução, que ocuparam ontem cargos em que se encontram hoje, não cogitem cinco minutos do julgamento do história (...) o Brasil ficará sabendo a verdadeira história desse período em que a Revolução de 64 abandonou os rumos traçados pelo seu maior líder, o Marechal Castelo Branco, para enveredar pelos rumos de um caudilhismo militar que está fora de moda, inclusive nas repúblicas hispano-americanas. Cheio de vergonha de meu País degradado a essa condição, subscrevo-me humilhado".
Muito tempo se passou com períodos áureos, mas o "JT" passou a sofrer um declínio acentuado, até decidir pelo fechamento. Em 1992, a circulação girava em torno de 100 mil exemplares mas caiu ano a ano e em 2001, atingiu 53 mil exemplares. Em 2002, após mudanças no ano anterior, a circulação voltou a subir lentamente. Mas, nos anos seguintes, voltou a declinar, chegando a 37 mil. De 110 pessoas em 2010, contava com 44 no dia do fechamento, das quais 20 seriam aproveitadas pelo grupo. O "Jornal do Carro" passou a ser publicado pelo "Estado".
O "Jornal da Tarde", que acumulou 24 Prêmios Esso, de 1966 a 1995, circulou pela última vez na quarta-feira, dia 31 de outubro de 2012. Terminou uma das mais fascinantes aventuras do jornalismo brasileiro no último meio século. Foi um jornal irreverente, ousado na forma, inovador no desenho gráfico e cuidadoso com o texto.
(Fonte: jornal Valor - 01.11.2012 - Matías M. Molina - parte/jornal O Estado de S.Paulo 31.10.2012)
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