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30 de out. de 2011

Bar Brahma (Curitiba)

           O Bar Brahma de Curitiba foi fundado em 20 de abril de 1999. Foi criado anexo à fábrica da Brahma que funcionava no local, na Avenida Presidente Getúlio Vargas, 234, no Rebouças, antigo bairro industrial da capital. A casa tinha capacidade para 160 pessoas sentadas. Seu proprietário era o empresário paranaense João Guilherme Leprevost, nascido em 1975. A ideia de abrir o boteco dentro da fábrica foi do próprio Leprevost, para aproveitar um espaço que já tinha sido até cocheira, na época em que a cerveja era entregue em carroças.
          Com o sinal verde da Ambev, partiu-se em busca de uma identidade para o lugar. "Faltavam bons bares à moda antiga em Curitiba", disse Leprevost. "O nosso veio resgatar a tradição dos botequins." A decoração da casa exibia peças antigas: fotos, engradados, canecas e até "bolachas" (suportes para copos), boa parte com a marca da Brahma.
          Leprevost já tinha experiência em casas noturnas. Ele fundou a danceteria Kony's, o Plattea Café e o restaurante Divino Mestre, todos em Curitiba. Quando percebeu o potencial do novo negócio, vendeu sua participação nos outros três.
           Hoje muito comum entre as cervejas artesanais, o Bar Brahma, junto à fábrica de Curitiba, teria sido o primeiro do Brasil.
           Apesar de não estar localizado em locais mais apinhados de bares como o Largo da Ordem ou o Batel, por exemplo, o Bar Brahma foi um dos primeiros na cidade a instituir a tradição de happy hour.
          Nos dia 2 de agosto de 2001, Leprevost fez uma peregrinação por bares de São Paulo. Sentava, tomava um chope, dava uma olhada no ambiente e ia embora. O mesmo ritual se repetiu em 17 bares. Começou no início da tarde e se estendeu até a meia-noite. Seu roteiro "etílico", como ele mesmo disse, foi para se atualizar sobre o que havia de melhor nos bares paulistanos.
           A Ambev desativou a fábrica em novembro de 2015, quando abriu outra unidade na cidade de Ponta Grossa a aproximadamente 100 quilômetros da capital paranaense. Mas o bar permaneceu. O terreno continuou sendo usado por alguns meses para abrigar um centro de distribuição e o setor comercial da cervejaria e toda a área foi doada pela Ambev, em abril de 2016, para o governo do estado, conforme protocolo de intenções assinado em 2013.
           Ele era o único bar do Brasil com a certificação ISO 9001, sendo referência em oferecer o melhor em qualidade aos seus clientes. Recebeu o certificado ISO 9002 em julho de 2000. Também ganhou destaque internacional nos anos em que Curitiba foi sede do FIA WTCC – World Touring Car Championship e quando foi ponto de encontro escolhido pelos lutadores do UFC Curitiba.
          Sua clientela era bem diversificada e incluía empresários e políticos. Entre eles, nos primeiros anos do bar, o governador Jaime Lerner e o senador Roberto Requião, inimigos de longa data. "Por sorte nunca se encontraram", diz Leprevost, aliviado.
          Desde o dia 25 de julho de 2018, a boemia curitibana não é mais a mesma. Agora, quem passa pela esquina da Getúlio Vargas com a João Negrão vê um cenário diferente do que o que ali esteve nos últimos 19 anos. Os fumantes que compartilhavam as calçadas se foram e já não se vê a recepção amigável aos clientes que chegavam. O Bar Brahma, tradicional reduto da vida noturna curitibana, não está mais ali.
          O bar reuniu, naquele clima ameno do dia da inauguração, desde os funcionários das fábricas vizinhas, até empresários que desejavam um local para o Happy Hour. Aliás, a diversidade da clientela sempre foi um dos marcos do Bar Brahma. Se a intenção era tomar um chope gelado, comer os petiscos tradicionais ou apenas acompanhar o futebol do balcão do bar, todos eram bem-vindos.
          Com o fechamento da casa, restam as lembranças nas mentes saudosas dos que eram frequentadores assíduos. Em 19 anos de história, não faltam lembranças sobre títulos conquistados no futebol paranaense, nacional e mundial, amizades criadas entre um chope e outro, disputas entre bebedores de caipirinha e até mesmo casamento entre funcionários do bar.
          A boa notícia foi que quem estava saudoso pôde ter uma parte do Bar Brahma para guardar de recordação. Nos dias 1, 2 e 3 de dezembro de 2018, o Bar Brahma fez, na Usina 5, um bazar para vender todos os utensílios e móveis. Foi possível comprar canecas, copos, louças e toda a decoração do bar. Além disso, o bazar foi uma ótima oportunidade para proprietários de bares e restaurantes que desejassem adquirir equipamentos e utensílios de cozinha, por exemplo.
          Segundo Leprevost, proprietário do bar e organizador do bazar, a intenção principal foi evitar que objetos com tanto valor afetivo para ex-funcionários e clientes fossem esquecidos em algum depósito: “Nós queremos que toda a história que esses objetos representam possa continuar acontecendo nas casas dos frequentadores do bar e até mesmo em outros bares da cidade. O bar fechou, mas o afeto que nutrimos pela sua história é eterno”.
(Fonte: revista Exame - 22.08.2001 / jornal Tribuna do Paraná - 04.11.2015 /  jornal Gazeta do Povo online - 20.04.2017 / Curitiba Cult - 30.11.2018 - partes)

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