A Fazendas Reunidas Boi Gordo foi fundada pelo pecuarista Paulo Roberto de Andrade, em 1988 e, prometia a seus investidores, gordos lucros após um certo período de tempo em que os aplicadores seriam uma espécie de "fazendeiros do asfalto". Teriam bois, mas não precisariam se preocupar com a lida do dia a dia para cuidar do gado. Parecia o investimento mais sensacional do mundo. Chegou a ter comercial em horário nobre com o "Rei do Gado" Antonio Fagundes. O comercial, veiculado no intervalo da novela homônima dizia: "Quem tem cabeça investe em gado". Dava até 42% de retorno em 18 meses - o tempo para engordar um boi.
Mas, a empresa agropecuária não resistiu às regras do mercado financeiro. Com patrimônio líquido negativo e impedida pela Comissão de Valores Mobiliários, CVM, de emitir novos títulos durante um período de cinco meses, a Boi Gordo pediu concordata em meados de outubro de 2001. A fragilidade da empresa ficou evidente em março do mesmo ano (2001), quando a CVM proibiu a Boi Gordo de lançar mão de novos contratos de Investimento Coletivo, CIC, porque tinha emitido 70 milhões de reais em títulos sem lastro. Foi a senha para que investidores assustados com a ameaça de quebra resgatassem 237 milhões de reais, de janeiro a agosto daquele ano. E deixassem a Boi Gordo em maus lençóis.
Outro motivo para deixar o investidores de cabelo em pé foi o próprio resultado de dezembro de 2000, quando a Boi Gordo apresentou 179 milhões de reais de prejuízo. A explicação de um assessor da Boi Gordo, Luiz Alberto Mattos, que a empresa era prejudicada pelo sistema contábil, que exigia que o custo do gado tinha que ser registrado baseado no valor de mercado, quando na verdade eles eram adquiridos por um preço muito menor que o da praça, porque eram comprados em grande número, não era suficientemente clara para a maioria dos que tinham aplicado ali o seu cacau. O esquema de pirâmide financeira ficou evidente quando a Boi Gordo precisou fazer os pagamentos dos investidores mais antigos com a entrada de novos. A época foi próspera em investimentos alternativos no agronegócio. Houve também um surto de aplicações em avestruzes e também em porcos, que igualmente deram em prejuízo.
Ficou claro que a origem dos problemas financeiros das empresas estava no fato de elas pagarem um rendimento incompatível com o real desempenho da atividade pecuária. Geralmente, as empresas que vendiam contratos de investimentos em bois ou suínos davam aos clientes uma garantia mínima de engorda. Se a garantia mínima oferecida era de uma engorda de 30% e o investidor comprava um contrato de 100 arrobas de boi, por exemplo, isso quer dizer que, no final, teria direito a, no mínimo, 130 arrobas. A dúvida que não queria calar era como as empresas podiam dar garantia de engorda se o negócio estava dando prejuízo.
A empresa ainda indicava como solução para seus problemas um ambicioso projeto lançado pouco antes da punição da CVM. Paulo Roberto de Andrade havia lançado um condomínio de fazendas. Por esse sistema, o investidor poderia comprar lotes de terras, administrados pela Colonizadora Boi Gordo. Por ser uma empresa independente, e estar livre de concordata, a Colonizadora poderia ajudar a resgatar a dívida de 780 milhões de reais com 20.000 investidores. 80% dos lotes da primeira fase chegaram a ser vendidos. Andrade também apontava como outra possibilidade para levantar a concordata o confinamento do gado. Por esse sistema, a engorda dos bois cairia de 18 para sete meses. Só que, para levar adiante o projeto, o empresário precisaria convencer investidores de que a Boi Gordo tinha jeito.
No meio da crise, o fundador Paulo Roberto Andrade conseguiu vender o controle, em 2003, para o grupo Golin.
Em 2004, a Boi Gordo pediu falência, deixando, em valores atualizados e com correção monetária até julho de 2016, dívidas de R$ 4 bilhões, e até então, os 32 mil investidores do esquema que micou não viram a cor do dinheiro.
A quebra das Fazendas Boi Gordo ficou nacionalmente conhecida por ser um dos maiores casos de falência envolvendo pirâmides financeiras no Brasil. Mais de 30 mil pessoas foram lesadas com a fraude, entre eles famosos como Marisa Orth, Felipão, Evair e Vampeta. Cerca de 70% dos investidores, porém, eram gente comum e desconhecida, que aplicou menos de R$ 25 mil no negócio, que prometia alto retorno com a engorda de bois.
Em 2015, o grupo Golin teve R$ 3 bilhões em bens bloqueados pela Justiça.
Em agosto de 2016, após o síndico da massa falida já ter vendido 11 fazendas e ter pagado pendências trabalhistas e tributárias, os investidores têm um novo alento para receber pelo menos parte de seu dinheiro de volta. Após duas tentativas frustradas, será feito novo leilão daquilo que seria a joia do espólio da Boi Gordo. Trata-se de uma área de 135 mil hectares, quase a extensão da mancha urbana da cidade de São Paulo, localizada em Comodoro, Mato Grosso, junto à Bolívia. Para atrair compradores desta vez, as condições foram facilitadas, tanto no tocante a deságio, como em parcelamento.
Em setembro de 2016, a Massa Falida das Fazendas Boi Gordo arrecadou mais de R$ 317 milhões em seu último leilão de terras. Cerca de R$ 305 milhões vieram do pregão com a principal fazenda, de cerca de 135 mil hectares. Outros R$ 12 milhões, com a venda de 17 lotes. A área tem nascentes, pistas de pousos, áreas para plantio, pastos. As fazendas leiloadas serviram de cenário para a famosa novela “O Rei do Gado”. Parte são áreas de reserva, mas uma ampla parcela inclui terras produtivas, algumas próximas aos centros urbanos, mas próprias para o cultivo agrícola, especialmente grãos, e para pecuária.
Mas, a empresa agropecuária não resistiu às regras do mercado financeiro. Com patrimônio líquido negativo e impedida pela Comissão de Valores Mobiliários, CVM, de emitir novos títulos durante um período de cinco meses, a Boi Gordo pediu concordata em meados de outubro de 2001. A fragilidade da empresa ficou evidente em março do mesmo ano (2001), quando a CVM proibiu a Boi Gordo de lançar mão de novos contratos de Investimento Coletivo, CIC, porque tinha emitido 70 milhões de reais em títulos sem lastro. Foi a senha para que investidores assustados com a ameaça de quebra resgatassem 237 milhões de reais, de janeiro a agosto daquele ano. E deixassem a Boi Gordo em maus lençóis.
Outro motivo para deixar o investidores de cabelo em pé foi o próprio resultado de dezembro de 2000, quando a Boi Gordo apresentou 179 milhões de reais de prejuízo. A explicação de um assessor da Boi Gordo, Luiz Alberto Mattos, que a empresa era prejudicada pelo sistema contábil, que exigia que o custo do gado tinha que ser registrado baseado no valor de mercado, quando na verdade eles eram adquiridos por um preço muito menor que o da praça, porque eram comprados em grande número, não era suficientemente clara para a maioria dos que tinham aplicado ali o seu cacau. O esquema de pirâmide financeira ficou evidente quando a Boi Gordo precisou fazer os pagamentos dos investidores mais antigos com a entrada de novos. A época foi próspera em investimentos alternativos no agronegócio. Houve também um surto de aplicações em avestruzes e também em porcos, que igualmente deram em prejuízo.
Ficou claro que a origem dos problemas financeiros das empresas estava no fato de elas pagarem um rendimento incompatível com o real desempenho da atividade pecuária. Geralmente, as empresas que vendiam contratos de investimentos em bois ou suínos davam aos clientes uma garantia mínima de engorda. Se a garantia mínima oferecida era de uma engorda de 30% e o investidor comprava um contrato de 100 arrobas de boi, por exemplo, isso quer dizer que, no final, teria direito a, no mínimo, 130 arrobas. A dúvida que não queria calar era como as empresas podiam dar garantia de engorda se o negócio estava dando prejuízo.
A empresa ainda indicava como solução para seus problemas um ambicioso projeto lançado pouco antes da punição da CVM. Paulo Roberto de Andrade havia lançado um condomínio de fazendas. Por esse sistema, o investidor poderia comprar lotes de terras, administrados pela Colonizadora Boi Gordo. Por ser uma empresa independente, e estar livre de concordata, a Colonizadora poderia ajudar a resgatar a dívida de 780 milhões de reais com 20.000 investidores. 80% dos lotes da primeira fase chegaram a ser vendidos. Andrade também apontava como outra possibilidade para levantar a concordata o confinamento do gado. Por esse sistema, a engorda dos bois cairia de 18 para sete meses. Só que, para levar adiante o projeto, o empresário precisaria convencer investidores de que a Boi Gordo tinha jeito.
No meio da crise, o fundador Paulo Roberto Andrade conseguiu vender o controle, em 2003, para o grupo Golin.
Em 2004, a Boi Gordo pediu falência, deixando, em valores atualizados e com correção monetária até julho de 2016, dívidas de R$ 4 bilhões, e até então, os 32 mil investidores do esquema que micou não viram a cor do dinheiro.
A quebra das Fazendas Boi Gordo ficou nacionalmente conhecida por ser um dos maiores casos de falência envolvendo pirâmides financeiras no Brasil. Mais de 30 mil pessoas foram lesadas com a fraude, entre eles famosos como Marisa Orth, Felipão, Evair e Vampeta. Cerca de 70% dos investidores, porém, eram gente comum e desconhecida, que aplicou menos de R$ 25 mil no negócio, que prometia alto retorno com a engorda de bois.
Em 2015, o grupo Golin teve R$ 3 bilhões em bens bloqueados pela Justiça.
Em agosto de 2016, após o síndico da massa falida já ter vendido 11 fazendas e ter pagado pendências trabalhistas e tributárias, os investidores têm um novo alento para receber pelo menos parte de seu dinheiro de volta. Após duas tentativas frustradas, será feito novo leilão daquilo que seria a joia do espólio da Boi Gordo. Trata-se de uma área de 135 mil hectares, quase a extensão da mancha urbana da cidade de São Paulo, localizada em Comodoro, Mato Grosso, junto à Bolívia. Para atrair compradores desta vez, as condições foram facilitadas, tanto no tocante a deságio, como em parcelamento.
Em setembro de 2016, a Massa Falida das Fazendas Boi Gordo arrecadou mais de R$ 317 milhões em seu último leilão de terras. Cerca de R$ 305 milhões vieram do pregão com a principal fazenda, de cerca de 135 mil hectares. Outros R$ 12 milhões, com a venda de 17 lotes. A área tem nascentes, pistas de pousos, áreas para plantio, pastos. As fazendas leiloadas serviram de cenário para a famosa novela “O Rei do Gado”. Parte são áreas de reserva, mas uma ampla parcela inclui terras produtivas, algumas próximas aos centros urbanos, mas próprias para o cultivo agrícola, especialmente grãos, e para pecuária.
Em novembro de 2017, 13 anos depois de decretada, a falência das fazendas Boi Gordo continuava gerando fatos inusitados. A Justiça descobriu que o comprador de uma das fazendas que foram leiloadas em março de 2017 é o Grupo Sperafico - que já tinha arrendado terras da Boi Gordo e não tinha pagado por isso, entrando na lista de devedores. Pagou 40 milhões de reais no leilão, mas devia 100 milhões de reais à massa falida. A Justiça confiscou o pagamento e iria decidir se devolveria o dinheiro ao grupo e aplicaria uma multa ou se usaria os recursos para abater a dívida. Já as terras iriam a leilão outra vez em novembro (2017).
(Fonte: revista meudinheiro - julho 2001 / revista Forbes Brasil - 07.11.2001 / jornal O Estado de S.Paulo - 14.08.2016 / jornal Gazeta do Povo online - 15.09.2016 / Exame - 08.11.2017 - partes)
(Fonte: revista meudinheiro - julho 2001 / revista Forbes Brasil - 07.11.2001 / jornal O Estado de S.Paulo - 14.08.2016 / jornal Gazeta do Povo online - 15.09.2016 / Exame - 08.11.2017 - partes)
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