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5 de out. de 2011

M. Marcello Leite Barbosa (corretora)

          A M. Marcello Leite Barbosa foi, de longe, a principal corretora do país lá por volta dos anos 1960, nos tempos da finada Bolsa do Rio de Janeiro. Neto de fazendeiros cearenses, Mauricio (o "M" inicial do nome da corretora) Marcello Dutra Leite Barbosa (1917-1977), foi tentar a sorte no Rio ainda criança, junto com o irmão, João Alberto, após a morte prematura do pai. Era uma época na qual investir em ações era coisa muito mais esotérica do que nos tempos atuais, a ponto de ser um mercado praticamente intocado pelos bancos - eram as pessoas físicas que ditavam o ritmo das compras e vendas nos pregões (que eram no grito) cariocas.
          Havia, na ocasião, grande entusiasmo pelo mercado de capitais por parte das cabeças de Brasília, e mecanismos foram criados para incentivar gente comum a colocar grana na Bolsa - remontam a essa época os famigerados Fundos 157, que permitiam deduzir do Imposto de Renda valores investidos em Renda Variável (não é por acaso que as regras de dedução dos PGBLs fazem eco na cabeça de quem já tem mais quilometragem nesse planeta).
          O mercado era minúsculo, a disponibilidade de informações era pífia, a CVM ainda nem existia - só viria a ser criada na segunda metade dos anos 1970 - e, portanto, imperava o vale tudo. Para satisfazer a demanda insaciável por alternativas de investimento, promoveu-se uma imensa onda de IPOs 
 (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) no país - uma parcela enorme das empresas que até hoje estão no pregão (e outra parcela, ainda maior, das que habitam o submundo da Bolsa ou, tanto pior, há muito deixaram de existir) remontam esse período.
          Nos tempos de juventude, o filho de Marcello Leite Barbosa, Maurício, era figurinha carimbada na high society carioca. Pouco afeito ao trabalho - façamos justiça: isso mudaria anos depois -, circulava sempre impecável, de carrão, invariavelmente acompanhado de beldades. Seu estilo de vida, jura George Vidor, autor do livro sobre os Leite Barbosa, é o responsável pela expressão Mauricinho.
          Aqueles eram tempos de corretoras com lojas de rua - a M. Marcello Leite Barbosa chegou a ter quinze, 
no Rio, São Paulo, Ceará, Minas, Bahia, Paraná e Brasília. - e de propaganda boca-a-boca. Em certo momento, veio a ideia: a corretora começou a arregimentar beldades da high society carioca para ajudar na popularização dos mercados. Devidamente munidas de pastas cor-de-rosa, ofereciam cotas de fundos de investimento. Ficaram conhecidas como Marcelletes. A corretora chegou a ter 1,4 mil funcionários e 58.000 clientes, números impressionantes até nos dias de hoje.
          Foi o tempo em que o mercado brasileiro formou, eventualmente, uma bolha. E a corretora saiu machucada do episódio a ponto de, anos depois, terminar liquidada - sob circunstâncias intrincadas. Muitíssimo mais machucados saíram milhares e milhares de pequenos investidores que deram ouvidos ao canto das sereiaxxx da Zona Sul.
          A virada do mercado em 1971 foi uma paulada dura demais para a M. Marcello Leite Barbosa. Era hábito da corretora financiar os clientes que queriam investir em ações – mas como os preços derreteram ao longo dos meses, a maioria ficou devendo. Não havia procedimentos padronizados, faltavam normas básicas de arquivamento, os relatórios financeiros e operacionais diziam pouco à diretoria – nada muito diferente do que eram as outras corretoras. Até um caso de desvio por um alto funcionário da casa foi descoberto. A empresa sofreu uma intervenção do Banco Central – fruto de perseguição do regime militar, segundo alguns – e definhou até ser totalmente vendida em 1987.
(Fonte: Nord Insights - 15.03.2019 - Ricardo Schweitzer / 
livro de George Vidor / SixthSense- partes

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