A mais longeva varejista criada no país, ainda com controle familiar e nacional, a Casas Pernambucanas foi fundada por Arthur Herman Lundgren, em 25 de setembro de 1908. Arthur era filho do imigrante sueco Herman Theodor Lundgren, falecido em 1907, considerado fundador póstumo da Pernambucanas, que desembarcou no Brasil no fim do século XIX. O primogênito de Herman era homônimo, Herman Theodor Lundgren Junior.
Lundgren criou as lojas para dar vazão à produção da CPT (Companhia Paulista de Tecidos), então controlada pela Rodrigues Lima & Cia, que comprara quatro anos antes, em Paulista, na época distrito de Olinda, no norte de Pernambuco. Herman era filho de Johann Willhem Lundgren, um pequeno industrial da cidade de Norrköping, na Suécia. Nada se sabe sobre a situação financeira de seu pai quando Herman decidiu emigrar.
Lundgren criou as lojas para dar vazão à produção da CPT (Companhia Paulista de Tecidos), então controlada pela Rodrigues Lima & Cia, que comprara quatro anos antes, em Paulista, na época distrito de Olinda, no norte de Pernambuco. Herman era filho de Johann Willhem Lundgren, um pequeno industrial da cidade de Norrköping, na Suécia. Nada se sabe sobre a situação financeira de seu pai quando Herman decidiu emigrar.
Nos primeiros anos de existência, a denominação comercial era Casa Lundgren - Fazendas e Roupas, conforme pode-se ver em foto tirada no Viaduto do Chá, no centro de São Paulo. Estava localizada num pequeno prédio comercial onde hoje é o Shopping Light.
Inovadora em vários aspectos, a rede tinha, na década de 1920, um Manual de Procedimentos, no qual orientava gerentes das lojas a fazer "reclames em circos e cinemas". Porteiras de fazendas, morros, pedras e lonas de circo transformaram-se, assim, nos primeiros outdoors do país, fixando a imagem da marca na mente da consumidora de tecidos e linhas de cama, mesa e banho.
Nas cidades, os próprios letreiros das lojas faziam, ou fazem, o papel de outdoors. Para ficar num só exemplo, numa exposição fotográfica do fotógrafo alemão Theodor Preising (1883-1962), feita na Fiesp, de 25 de janeiro a 25 de março de 2018, aparece com bastante destaque o nome Casas Pernambucanas na Praça da Sé, centro de São Paulo, em foto de 1940.
Na década de 1970, um desenho animado da Pernambucanas, que tinha como protagonista o frio anunciando sua chegada, se tornou um clássico. Exibida até hoje como símbolo da criatividade nacional, a frase "Quem bate? É o frio!" tornou-se um dos maiores ícones da propaganda brasileira. O reclame também foi muito difundido em rádios.
Além da comunicação forte, a Casas Pernambucanas usou como estratégia abrir lojas seguindo a rede ferroviária construída na década de 1930, durante a Era do Café. Uma das primeiras a contratar mulheres como vendedoras, a Pernambucanas também inovou ao tirar os tecidos das prateleiras e colocá-los nas mãos das consumidoras. Esteve entre as primeiras a usar carnês para crediário e cartões de financiamento próprio.
Assim, entre as décadas de 1920 e 1970, as empresas da família Lundgren prosperaram e se transformaram no maior complexo têxtil da América do Sul.
Segundo especialistas em varejo, trabalhar na Pernambucanas à época tinha o mesmo prestígio de ser funcionário do Banco do Brasil ou dos Correios.
Nos anos 1970, quando atingiu seu ápice, o grupo chegou a operar mais de 1.000 lojas espalhadas pelo país, que faturavam então 1 bilhão de dólares por ano. A Pernambucanas foi a responsável pela mudança na composição do CGC (hoje CNPJ), justamente por ter sido a primeira empresa a atingir mil filiais. Até então, o número do estabelecimento do cadastro tinha 3 dígitos, o "001" do exemplo 99.999.999/001-99. Com a inauguração da 1000ª loja, teve que passar para quatro dígitos, no exemplo, 0001. Não necessariamente as 1000 estariam ativas ao mesmo tempo, pois há de se considerar que as filiais fechadas não têm seu CNPJ reutilizado de imediato.
A Pernambucanas é provavelmente o maior fenômeno de sobrevivência do varejo brasileiro. O negócio conseguiu resistir a disputas dentro do clã Lundgren que quase o destruíram. A primeira grande cisão ocorreu em 1975 - a fase de maior pujança. Naquela época, a empresa foi dividida por regiões e passou a ser formada por duas companhias, que dividiam a marca: a Lundgren Irmãos Tecidos, sediada no Rio de Janeiro e que cuidava das lojas fluminenses e da operação no Nordeste, e a Arthur Lundgren Tecidos, responsável pelas operações do Sul, Centro-Oeste e São Paulo.
O grupo, no entanto, não resistiu à disputa entre herdeiros nas décadas de 1970 a 1990, que atingiu o ápice nos anos 1980. Separadas, as operações de Pernambuco e Ceará desapareceram. Os negócios do Rio (Lundgren Irmãos Tecidos) solicitou concordata em outubro de 1990 para fazer frente a dívidas de 100 milhões de dólares junto a bancos e fornecedores. A parte paulista do negócio, comandada por Erenita Helena, filha do fundador Arthur Herman Lundgren sobreviveu à derrocada.
Em abril de 1994, a concordata (da parte carioca) parecia estar sendo levantada. Representantes da família procuraram um banco de investimento no Rio de Janeiro para avaliar a viabilidade de venda, mas as conversações não evoluíram. O braço carioca da Pernambucanas foi à falência em 1997 e de lá para cá, a marca deixou de existir no Rio de Janeiro. Só a Arthur Lundgren Tecidos, com operações em São Paulo, prosperou e hoje concorre com os grandes concorrentes.
Em 1990 morre Erenita Helena Groschke Cavalcanti Lundgren, antiga presidente da empresa, cujo testamento garante à sua filha Anita Louise Regina Harley 50% do controle até 2010. Desde 1991, o grupo de herdeiros briga na justiça para receber dividendos. Anita, neta do fundador e Frederico Axel Lundgren passaram a revezar o comando.
Em 2002, depois de longas disputas entre herdeiros, a Pernambucanas chegou a seu momento mais crítico: a rede foi reduzida a 238 lojas, com prejuízo, e um faturamento de 675 milhões de dólares. Um drástico programa de reestruturação foi adotado e, em três anos, a receita voltou para o patamar do bilhão de dólares.
Com o importante sinal de recuperação, tal desempenho, num setor altamente competitivo como o varejo, transformou a Pernambucanas num alvo para algumas de suas concorrentes. Nos primeiros meses de 2006, a Lojas Americanas teria sondado a empresa com uma oferta de compra - proposta imediatamente repelida. Mais para meados do ano (2006), outro ataque. A rede Riachuelo, do grupo Guararapes, teria tentado se aproximar para propor uma fusão das duas redes. Em vão. O fracasso das duas ofertas estaria diretamente relacionado à figura de Anita.
Mulher alta, então de meia-idade, acentuados traços germânicos, nome aristocrático e personalidade enigmática, Anita ocupava em 2006 o cargo de vice-presidente do conselho de administração da empresa. E nada acontecia na Pernambucanas sem seu consentimento. Para funcionários, fornecedores, consultores e diretores da Pernambucanas, Anita era praticamente uma lenda. Poucos são os que a viram pessoalmente. "Em mais de 20 anos de companhia, vi a doutora Anita apenas duas vezes", diz um ex-diretor. No dia-a-dia da empresa, seu principal interlocutor era o executivo Toshio Kawakami. Era ele (apenas ele) quem levava orientações de Anita ao restante do grupo.
Se poucas pessoas a conhecem de perto, seu temperamento difícil, por outro lado, ganhou notoriedade dentro e fora da empresa. Tom de voz grave, com fala forte e acentuado sotaque nordestino, Anita não faz o tipo diplomático. Quando a consultoria Accenture foi contratada para planejar a reestruturação da companhia, Anita (por mais de uma vez, mas sempre através de ligações telefônicas) embaraçou os presentes dizendo-se contrária às orientações dos consultores. Fazia isso de um jeito franco, direto e sem rodeios. O único que conseguia contornar o temperamento de Anita era Kawakami. Tornou-se folclore no mercado uma tentativa de aquisição feita por uma de suas concorrentes em 2000. Na ocasião, os executivos que fizeram a proposta ofereceram um prêmio aos herdeiros caso eles conseguissem convencer Anita a vender a empresa. Entre amigos próximos da discreta comandante, há o consenso de que que a estratégia foi equivocada. "Eles deveriam ter insistido com Toshio. Ela só ouve ele", disse um deles.
Solteira e sem filhos, Anita viveu por mais de 30 anos num hotel - o Ca'd'Oro, antigo reduto de milionários no centro de São Paulo, mais tarde marcado por certa decadência. Lá, ela ocupava um conjunto de três apartamentos, onde instalou aposentos e um escritório. Apenas duas pessoas lidavam com Anita no dia-a-dia: uma secretária e uma copeira com dedicação exclusiva. As suítes ficavam sob constante vigilância de dois seguranças. Em São Paulo, Anita raramente saía do hotel. Por estar acima do peso recomendável, ela passou a ter dificuldade de locomoção e passou a usar uma cadeira de rodas para facilitar deslocamentos. Quando não estava em São Paulo, Anita se refugiava em Recife, cidade onde nasceu e cursou a faculdade de direito. Em geral, passava três temporadas por ano em Pernambuco (todas com duração média de três semanas). Reservada, bastante reclusa, Anita não gosta de fotos. A grande razão de sua vida passou a ser o comando da empresa.
A Pernambucanas teria conseguido sobreviver porque redirecionou - ainda a tempo - o foco para os setores de utilidades domésticas, eletrônicos, confecções e artigos de cama, mesa e banho. "A virtude da Pernambucanas é operar com grandes lojas em cidades pequenas", diz Alberto Serrentino, da consultoria Gouvêa de Souza & MD. "Além disso, a rede tem lojas de rua, diferentemente das concorrentes, baseadas nos shopping centers." É com essa fórmula que a misteriosa Anita pretendia conduzir a empresa e rechaçar a investida dos concorrentes.
Em 2017, a Pernambucanas cria a unidade chamada Alinc para fazer a gestão das propriedades operacionais e não operacionais da empresa.
Em 2018, a receita líquida da Pernambucanas teve crescimento de 17,6%, totalizando R$ 4,2 bilhões. A expansão de vendas, porém, veio depois de a varejista ter perdido 25% do faturamento entre 2014 e 2017.
Em abril de 2019, depois de mais de 20 anos de ausência e três décadas após uma briga que separou dois ramos da família Lundgren, a Pernambucanas está de volta ao Rio de Janeiro. A companhia retorna sob o comando da parte da varejista que sobreviveu, a Arthur Lundgren Tecidos. A primeira unidade foi inaugurada no fim de abril, no município de Itaperuna, e outras nove estavam previstas até o fim do ano, inclusive com lojas previstas para o centro da capital e o bairro de Copacabana, afirmou o presidente da varejista, Sérgio Borriello, que está à frente da Pernambucanas desde o final de 2016.
O consultor Alberto Serrentino, agora na consultoria Varese, diz que é um bom momento para que a Pernambucanas volte ao Rio de Janeiro. Primeiro porque ainda existe uma memória residual da marca – o que é uma vantagem em relação a começar uma operação do zero. Depois, porque a Leader, principal rival da Pernambucanas no Rio, teve várias dificuldades nos últimos tempos.
A Arthur Lundgren Tecidos, a parte que sobreviveu, também teve seus percalços nos últimos tempos. Os herdeiros se envolveram numa briga da qual fez parte a bisneta do fundador – Anita Harley, até hoje a maior acionista individual do negócio – e os sobrinhos, pelo direito relativo a 25% do negócio. A questão foi pacificada após uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de 2017, em favor dos sobrinhos. A sentença abriu a porta para a Pernambucanas fazer mudanças em seu modelo de negócio – como a saída do setor de eletrodomésticos e o estabelecimento de uma gestão profissional com mais autonomia.
Por volta de meados de 2018, dentro do disputado ramo de varejo, a Pernambucanas apresentava números sólidos e contava com cerca de 280 lojas e 15 mil funcionários. Mas, a impressão que os especialistas tinham, é que, em ela não sendo nem o Magazine Luiza nem a Marisa nem a Casas Bahia nem a Renner, precisava um reposicionamento claro da marca.
Nos últimos meses de 2019, impondo um forte ritmo de inaugurações de novas lojas, que se juntarão às suas 368 unidades já existentes, é bem provável que a Pernambucanas esteja reposicionando bem sua marca.
Inovadora em vários aspectos, a rede tinha, na década de 1920, um Manual de Procedimentos, no qual orientava gerentes das lojas a fazer "reclames em circos e cinemas". Porteiras de fazendas, morros, pedras e lonas de circo transformaram-se, assim, nos primeiros outdoors do país, fixando a imagem da marca na mente da consumidora de tecidos e linhas de cama, mesa e banho.
Nas cidades, os próprios letreiros das lojas faziam, ou fazem, o papel de outdoors. Para ficar num só exemplo, numa exposição fotográfica do fotógrafo alemão Theodor Preising (1883-1962), feita na Fiesp, de 25 de janeiro a 25 de março de 2018, aparece com bastante destaque o nome Casas Pernambucanas na Praça da Sé, centro de São Paulo, em foto de 1940.
Na década de 1970, um desenho animado da Pernambucanas, que tinha como protagonista o frio anunciando sua chegada, se tornou um clássico. Exibida até hoje como símbolo da criatividade nacional, a frase "Quem bate? É o frio!" tornou-se um dos maiores ícones da propaganda brasileira. O reclame também foi muito difundido em rádios.
Além da comunicação forte, a Casas Pernambucanas usou como estratégia abrir lojas seguindo a rede ferroviária construída na década de 1930, durante a Era do Café. Uma das primeiras a contratar mulheres como vendedoras, a Pernambucanas também inovou ao tirar os tecidos das prateleiras e colocá-los nas mãos das consumidoras. Esteve entre as primeiras a usar carnês para crediário e cartões de financiamento próprio.
Assim, entre as décadas de 1920 e 1970, as empresas da família Lundgren prosperaram e se transformaram no maior complexo têxtil da América do Sul.
Segundo especialistas em varejo, trabalhar na Pernambucanas à época tinha o mesmo prestígio de ser funcionário do Banco do Brasil ou dos Correios.
Nos anos 1970, quando atingiu seu ápice, o grupo chegou a operar mais de 1.000 lojas espalhadas pelo país, que faturavam então 1 bilhão de dólares por ano. A Pernambucanas foi a responsável pela mudança na composição do CGC (hoje CNPJ), justamente por ter sido a primeira empresa a atingir mil filiais. Até então, o número do estabelecimento do cadastro tinha 3 dígitos, o "001" do exemplo 99.999.999/001-99. Com a inauguração da 1000ª loja, teve que passar para quatro dígitos, no exemplo, 0001. Não necessariamente as 1000 estariam ativas ao mesmo tempo, pois há de se considerar que as filiais fechadas não têm seu CNPJ reutilizado de imediato.
A Pernambucanas é provavelmente o maior fenômeno de sobrevivência do varejo brasileiro. O negócio conseguiu resistir a disputas dentro do clã Lundgren que quase o destruíram. A primeira grande cisão ocorreu em 1975 - a fase de maior pujança. Naquela época, a empresa foi dividida por regiões e passou a ser formada por duas companhias, que dividiam a marca: a Lundgren Irmãos Tecidos, sediada no Rio de Janeiro e que cuidava das lojas fluminenses e da operação no Nordeste, e a Arthur Lundgren Tecidos, responsável pelas operações do Sul, Centro-Oeste e São Paulo.
O grupo, no entanto, não resistiu à disputa entre herdeiros nas décadas de 1970 a 1990, que atingiu o ápice nos anos 1980. Separadas, as operações de Pernambuco e Ceará desapareceram. Os negócios do Rio (Lundgren Irmãos Tecidos) solicitou concordata em outubro de 1990 para fazer frente a dívidas de 100 milhões de dólares junto a bancos e fornecedores. A parte paulista do negócio, comandada por Erenita Helena, filha do fundador Arthur Herman Lundgren sobreviveu à derrocada.
Em abril de 1994, a concordata (da parte carioca) parecia estar sendo levantada. Representantes da família procuraram um banco de investimento no Rio de Janeiro para avaliar a viabilidade de venda, mas as conversações não evoluíram. O braço carioca da Pernambucanas foi à falência em 1997 e de lá para cá, a marca deixou de existir no Rio de Janeiro. Só a Arthur Lundgren Tecidos, com operações em São Paulo, prosperou e hoje concorre com os grandes concorrentes.
Em 1990 morre Erenita Helena Groschke Cavalcanti Lundgren, antiga presidente da empresa, cujo testamento garante à sua filha Anita Louise Regina Harley 50% do controle até 2010. Desde 1991, o grupo de herdeiros briga na justiça para receber dividendos. Anita, neta do fundador e Frederico Axel Lundgren passaram a revezar o comando.
Em 2002, depois de longas disputas entre herdeiros, a Pernambucanas chegou a seu momento mais crítico: a rede foi reduzida a 238 lojas, com prejuízo, e um faturamento de 675 milhões de dólares. Um drástico programa de reestruturação foi adotado e, em três anos, a receita voltou para o patamar do bilhão de dólares.
Com o importante sinal de recuperação, tal desempenho, num setor altamente competitivo como o varejo, transformou a Pernambucanas num alvo para algumas de suas concorrentes. Nos primeiros meses de 2006, a Lojas Americanas teria sondado a empresa com uma oferta de compra - proposta imediatamente repelida. Mais para meados do ano (2006), outro ataque. A rede Riachuelo, do grupo Guararapes, teria tentado se aproximar para propor uma fusão das duas redes. Em vão. O fracasso das duas ofertas estaria diretamente relacionado à figura de Anita.
Mulher alta, então de meia-idade, acentuados traços germânicos, nome aristocrático e personalidade enigmática, Anita ocupava em 2006 o cargo de vice-presidente do conselho de administração da empresa. E nada acontecia na Pernambucanas sem seu consentimento. Para funcionários, fornecedores, consultores e diretores da Pernambucanas, Anita era praticamente uma lenda. Poucos são os que a viram pessoalmente. "Em mais de 20 anos de companhia, vi a doutora Anita apenas duas vezes", diz um ex-diretor. No dia-a-dia da empresa, seu principal interlocutor era o executivo Toshio Kawakami. Era ele (apenas ele) quem levava orientações de Anita ao restante do grupo.
Se poucas pessoas a conhecem de perto, seu temperamento difícil, por outro lado, ganhou notoriedade dentro e fora da empresa. Tom de voz grave, com fala forte e acentuado sotaque nordestino, Anita não faz o tipo diplomático. Quando a consultoria Accenture foi contratada para planejar a reestruturação da companhia, Anita (por mais de uma vez, mas sempre através de ligações telefônicas) embaraçou os presentes dizendo-se contrária às orientações dos consultores. Fazia isso de um jeito franco, direto e sem rodeios. O único que conseguia contornar o temperamento de Anita era Kawakami. Tornou-se folclore no mercado uma tentativa de aquisição feita por uma de suas concorrentes em 2000. Na ocasião, os executivos que fizeram a proposta ofereceram um prêmio aos herdeiros caso eles conseguissem convencer Anita a vender a empresa. Entre amigos próximos da discreta comandante, há o consenso de que que a estratégia foi equivocada. "Eles deveriam ter insistido com Toshio. Ela só ouve ele", disse um deles.
Solteira e sem filhos, Anita viveu por mais de 30 anos num hotel - o Ca'd'Oro, antigo reduto de milionários no centro de São Paulo, mais tarde marcado por certa decadência. Lá, ela ocupava um conjunto de três apartamentos, onde instalou aposentos e um escritório. Apenas duas pessoas lidavam com Anita no dia-a-dia: uma secretária e uma copeira com dedicação exclusiva. As suítes ficavam sob constante vigilância de dois seguranças. Em São Paulo, Anita raramente saía do hotel. Por estar acima do peso recomendável, ela passou a ter dificuldade de locomoção e passou a usar uma cadeira de rodas para facilitar deslocamentos. Quando não estava em São Paulo, Anita se refugiava em Recife, cidade onde nasceu e cursou a faculdade de direito. Em geral, passava três temporadas por ano em Pernambuco (todas com duração média de três semanas). Reservada, bastante reclusa, Anita não gosta de fotos. A grande razão de sua vida passou a ser o comando da empresa.
A Pernambucanas teria conseguido sobreviver porque redirecionou - ainda a tempo - o foco para os setores de utilidades domésticas, eletrônicos, confecções e artigos de cama, mesa e banho. "A virtude da Pernambucanas é operar com grandes lojas em cidades pequenas", diz Alberto Serrentino, da consultoria Gouvêa de Souza & MD. "Além disso, a rede tem lojas de rua, diferentemente das concorrentes, baseadas nos shopping centers." É com essa fórmula que a misteriosa Anita pretendia conduzir a empresa e rechaçar a investida dos concorrentes.
Em 2017, a Pernambucanas cria a unidade chamada Alinc para fazer a gestão das propriedades operacionais e não operacionais da empresa.
Em 2018, a receita líquida da Pernambucanas teve crescimento de 17,6%, totalizando R$ 4,2 bilhões. A expansão de vendas, porém, veio depois de a varejista ter perdido 25% do faturamento entre 2014 e 2017.
Em abril de 2019, depois de mais de 20 anos de ausência e três décadas após uma briga que separou dois ramos da família Lundgren, a Pernambucanas está de volta ao Rio de Janeiro. A companhia retorna sob o comando da parte da varejista que sobreviveu, a Arthur Lundgren Tecidos. A primeira unidade foi inaugurada no fim de abril, no município de Itaperuna, e outras nove estavam previstas até o fim do ano, inclusive com lojas previstas para o centro da capital e o bairro de Copacabana, afirmou o presidente da varejista, Sérgio Borriello, que está à frente da Pernambucanas desde o final de 2016.
O consultor Alberto Serrentino, agora na consultoria Varese, diz que é um bom momento para que a Pernambucanas volte ao Rio de Janeiro. Primeiro porque ainda existe uma memória residual da marca – o que é uma vantagem em relação a começar uma operação do zero. Depois, porque a Leader, principal rival da Pernambucanas no Rio, teve várias dificuldades nos últimos tempos.
A Arthur Lundgren Tecidos, a parte que sobreviveu, também teve seus percalços nos últimos tempos. Os herdeiros se envolveram numa briga da qual fez parte a bisneta do fundador – Anita Harley, até hoje a maior acionista individual do negócio – e os sobrinhos, pelo direito relativo a 25% do negócio. A questão foi pacificada após uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de 2017, em favor dos sobrinhos. A sentença abriu a porta para a Pernambucanas fazer mudanças em seu modelo de negócio – como a saída do setor de eletrodomésticos e o estabelecimento de uma gestão profissional com mais autonomia.
Por volta de meados de 2018, dentro do disputado ramo de varejo, a Pernambucanas apresentava números sólidos e contava com cerca de 280 lojas e 15 mil funcionários. Mas, a impressão que os especialistas tinham, é que, em ela não sendo nem o Magazine Luiza nem a Marisa nem a Casas Bahia nem a Renner, precisava um reposicionamento claro da marca.
Nos últimos meses de 2019, impondo um forte ritmo de inaugurações de novas lojas, que se juntarão às suas 368 unidades já existentes, é bem provável que a Pernambucanas esteja reposicionando bem sua marca.
A Pernambucanas ultrapassou a marca de 500 lojas em 2022, com 12 mil empregados. Mesmo no pós-pandemia, em 2022, a empresa manteve a estratégia de abertura de lojas físicas, voltou a ter lojas no Rio de Janeiro e Espírito Santo, e ampliou o número de pontos no Nordeste, com destaque para Bahia, Sergipe e Pernambuco, onde não estava mais presente, apesar de seu nome e de ter sua origem local.
A partir de 10 de abril de 2023, a estação Paulista da Linha 4-Amarela, do metrô de São Paulo, recebeu o nome de “Paulista Pernambucanas". A iniciativa é resultado do acordo de naming rights firmado entre a varejista e a concessionária ViaQuatro e valerá por, no mínimo, cinco anos. A saída da estação está localizada ao lado da sede da varejista, na Rua da Consolação, na capital paulista.
A partir de 10 de abril de 2023, a estação Paulista da Linha 4-Amarela, do metrô de São Paulo, recebeu o nome de “Paulista Pernambucanas". A iniciativa é resultado do acordo de naming rights firmado entre a varejista e a concessionária ViaQuatro e valerá por, no mínimo, cinco anos. A saída da estação está localizada ao lado da sede da varejista, na Rua da Consolação, na capital paulista.
No início de outubro de 2023, a rede de lojas Pernambucanas troca o comando de suas operações. Depois de sete anos à frente da varejista, Sérgio Borriello deixa o posto de CEO. Em seu lugar, entra Marcelo Labuto. Com 33 anos de experiência profissional, boa parte no mercado financeiro, Labuto foi diretor executivo do banco Santander, onde era responsável pelas operações de varejo, e presidiu a BB Seguridade, o braço de seguros do Banco do Brasil. Ele chegou a ocupar a presidência do banco público, em novembro de 2018, no final do governo de Michel Temer, em substituição a Paulo Caffarelli.
(Fonte: Wikipédia / revista Exame - 13.04.1994 / 02.08.2006 / jornal Folha de S.Paulo - 26.11.2008 / revista Exame 27.04.2016 / jornal Valor 25.06.2018 / IstoÉDinheiro (Estadão Conteúdo) - 15.05.2019 / CNN - 07.04.2023 / Estadão - 05.10.2023 - partes)
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