Marcos Augusto de Moraes, filho do ex-rei da soja Olacyr de Moraes, gestou
um serviço de e-mail grátis que se tornou um fenômeno por volta de 1999: o Zipmail, criado nos moldes do Hotmail americano. Quando o Zipmail entrou no ar, em agosto de 1998, os executivos da Internetcom, empresa dirigida por Marcos e integrante da Itatel, o braço de telecomunicações do Itamarati, esperavam que alcançasse 120.000 assinantes em seis meses. A marca foi ultrapassada nas primeiras semanadas de operação. O serviço atingiu 2 milhões de cadastros em um ano.
Imediatamente, passou a querer vender produtos para essa comunidade. Começou com o portal de viagens ziptravel, lançado no início de outubro de 1999. Já provia, em meados de 1999, acesso à Internet para mais de 2.500 clientes corporativos.
Marcos de Moraes vendeu o portal Zip.net por 365 milhões de dólares à PT Multimedia, da Portugal Telecom, no maior negócio que um empreendedor da rede já fechou no Brasil (Moraes ficou com mais de 300 milhões de dólares).
Moraes vendeu seu negócio na internet em fevereiro de 2000. Em abril daquele ano, menos de dois meses depois de fechar a venda, a soma das ações das empresas listadas na bolsa eletrônica Nasdaq chegou a perder 350 bilhões de dólares em um único dia, causando estragos entre as ponto-com no mundo todo. A insanidade das valorizações das empresas de internet estava aparentemente chegando ao fim. Mas a essa altura Moraes já estava tranquilo. Fechou o negócio em dinheiro vivo. (Já dos portugueses não dá para dizer o mesmo. Um ano depois de desembolsar a tal fortuna pelo Zip.Net, a Portugal Telecom entregou a empresa e mais 100 milhões de dólares em troca de 17,9% do UOL, o maior provedor brasileiro, que também tem como sócios os grupos Folha e Abril.)
Meses após essa segunda venda, o Zip.Net desapareceu. Com poucas exceções, os serviços e o conteúdo que faziam parte do portal foram incorporados pelo UOL.
Pode-se dizer que Moraes teve a sorte de vender a empresa na hora certa? Sem dúvida. Mas uma lente de aumento sobre os negócios realizados por esse paulistano nascido em 1967 revela mais que simplesmente visão de momento. Moraes seria um empresário típico da Nova Economia. Isso se traduz em duas de suas convicções. A primeira: acreditar no poder da globalização. "As pessoas encaram como algo que está acontecendo no outro lado do mundo. Não é assim. A globalização é aqui, forte, rápida e inexorável", diz ele. A segunda: sua compreensão de que o conhecimento é o alicerce da geração de valor no xadrez da economia contemporânea.
É com base nesses dois princípios que Moraes avaliava onde e quando investir - e a hora de sair de um negócio. E tinha bem claro um mantra pessoal: "Não existe nada mais chato do que nascer e morrer fazendo a mesma coisa". Aos 19 anos, ele abandonou o primeiro ano no curso de economia na Faap, em São Paulo, e mudou-se para o Japão, para estudar japonês e, quem sabe, prospectar oportunidades no país.
Na volta, e ainda bem antes da empreitada na internet, Moraes entrou em seu primeiro negócio de risco: o paging, o sistema de mensagens de texto que deu início à virada nas tecnologias de telecomunicações nos anos 1990. Com um empréstimo de 4 milhões de dólares tomado com o pai, abriu em 1991 seu primeiro negócio solo, a Itatel, uma holding de investimentos do setor de telecomunicações. Centrada no negócio de pagers (a Access, sua empresa, chegou a ser a terceira maior operadora do país), Moraes transformou os 4 milhões iniciais em 14 milhões de dólares. Desse capital surgiria o provedor de acesso corporativo Internetcom e, depois, o Zip.Net.
Tudo começou com o ZipMail. O serviço de e-mail gratuito surgiu num lampejo durante uma reunião da diretoria da Internetcom, quando Moraes falou sobre como o e-mail gratuito poderia criar valor para os clientes do provedor. Na época, a Internetcom provia acesso à internet a grandes corporações, como GM, Basf e grupo Pão de Açúcar. Noventa dias depois da tal reunião o ZipMail estava no ar. Nove meses depois, com campanha de marketing estrelada por beldades como Luana Piovani, o serviço alcançou 1 milhão de usuários.
Embora o e-mail gratuito não possa ser considerado um projeto original - o Hotmail já existia nos Estados Unidos desde 1995 - Moraes soube identificar uma oportunidade que ainda não era explorada por ninguém no Brasil. O Unibanco percebeu isso e comprou cerca de 12% do Zip.Net por 18 milhões de dólares.
Depois de definir o foco no público jovem, Moraes começou a agregar nomes poderosos ao portal, como o de Pelé. A sacada ajudou, e muito, a chamar a atenção dos investidores para o Zip.Net.
Se Moraes conseguiria repetir nos seus novos negócios a estratégia - e o sucesso - que teve no mundo virtual é uma pergunta que ainda não podia ser respondida. Pelo sim pelo não, com a dinheirama toda no bolso, na hora de entrar em novos negócios, Moraes não estava mais assim tão ligado à chamada nova economia. Depois da venda da Zip.Net, ele criou uma holding para controlar seus investimentos chamada B4 (cuja pronúncia é before em inglês, ou "antes", dando a conotação de antecipação). No final do ano 2000, a B4 comprou 50% da Language, uma loja moderninha em Nova York, que já vinha recebendo prêmios da moda, que vendia um pouco de tudo: roupas, objetos de arte, livros e móveis. Num curto espaço de tempo, virou ponto da moda nova-iorquina e atraiu uma seleta clientela de famosos.
Mas a Language era um negócio relativamente pequeno, que fechou as portas em abril de 2004, após desentendimento com os sócios. Outro investimento de Moraes foi na editora Trip, que publica a revista do mesmo nome. E, em meados de 2004, criou a cachaça Sagatiba, que desde 2011 está nas mãos do Grupo Campari.
(Fonte: Brasil em Exame - 1999 / revista Exame -17.11.1999 / 23.01.2002 - partes)
um serviço de e-mail grátis que se tornou um fenômeno por volta de 1999: o Zipmail, criado nos moldes do Hotmail americano. Quando o Zipmail entrou no ar, em agosto de 1998, os executivos da Internetcom, empresa dirigida por Marcos e integrante da Itatel, o braço de telecomunicações do Itamarati, esperavam que alcançasse 120.000 assinantes em seis meses. A marca foi ultrapassada nas primeiras semanadas de operação. O serviço atingiu 2 milhões de cadastros em um ano.
Imediatamente, passou a querer vender produtos para essa comunidade. Começou com o portal de viagens ziptravel, lançado no início de outubro de 1999. Já provia, em meados de 1999, acesso à Internet para mais de 2.500 clientes corporativos.
Marcos de Moraes vendeu o portal Zip.net por 365 milhões de dólares à PT Multimedia, da Portugal Telecom, no maior negócio que um empreendedor da rede já fechou no Brasil (Moraes ficou com mais de 300 milhões de dólares).
Moraes vendeu seu negócio na internet em fevereiro de 2000. Em abril daquele ano, menos de dois meses depois de fechar a venda, a soma das ações das empresas listadas na bolsa eletrônica Nasdaq chegou a perder 350 bilhões de dólares em um único dia, causando estragos entre as ponto-com no mundo todo. A insanidade das valorizações das empresas de internet estava aparentemente chegando ao fim. Mas a essa altura Moraes já estava tranquilo. Fechou o negócio em dinheiro vivo. (Já dos portugueses não dá para dizer o mesmo. Um ano depois de desembolsar a tal fortuna pelo Zip.Net, a Portugal Telecom entregou a empresa e mais 100 milhões de dólares em troca de 17,9% do UOL, o maior provedor brasileiro, que também tem como sócios os grupos Folha e Abril.)
Meses após essa segunda venda, o Zip.Net desapareceu. Com poucas exceções, os serviços e o conteúdo que faziam parte do portal foram incorporados pelo UOL.
Pode-se dizer que Moraes teve a sorte de vender a empresa na hora certa? Sem dúvida. Mas uma lente de aumento sobre os negócios realizados por esse paulistano nascido em 1967 revela mais que simplesmente visão de momento. Moraes seria um empresário típico da Nova Economia. Isso se traduz em duas de suas convicções. A primeira: acreditar no poder da globalização. "As pessoas encaram como algo que está acontecendo no outro lado do mundo. Não é assim. A globalização é aqui, forte, rápida e inexorável", diz ele. A segunda: sua compreensão de que o conhecimento é o alicerce da geração de valor no xadrez da economia contemporânea.
É com base nesses dois princípios que Moraes avaliava onde e quando investir - e a hora de sair de um negócio. E tinha bem claro um mantra pessoal: "Não existe nada mais chato do que nascer e morrer fazendo a mesma coisa". Aos 19 anos, ele abandonou o primeiro ano no curso de economia na Faap, em São Paulo, e mudou-se para o Japão, para estudar japonês e, quem sabe, prospectar oportunidades no país.
Na volta, e ainda bem antes da empreitada na internet, Moraes entrou em seu primeiro negócio de risco: o paging, o sistema de mensagens de texto que deu início à virada nas tecnologias de telecomunicações nos anos 1990. Com um empréstimo de 4 milhões de dólares tomado com o pai, abriu em 1991 seu primeiro negócio solo, a Itatel, uma holding de investimentos do setor de telecomunicações. Centrada no negócio de pagers (a Access, sua empresa, chegou a ser a terceira maior operadora do país), Moraes transformou os 4 milhões iniciais em 14 milhões de dólares. Desse capital surgiria o provedor de acesso corporativo Internetcom e, depois, o Zip.Net.
Tudo começou com o ZipMail. O serviço de e-mail gratuito surgiu num lampejo durante uma reunião da diretoria da Internetcom, quando Moraes falou sobre como o e-mail gratuito poderia criar valor para os clientes do provedor. Na época, a Internetcom provia acesso à internet a grandes corporações, como GM, Basf e grupo Pão de Açúcar. Noventa dias depois da tal reunião o ZipMail estava no ar. Nove meses depois, com campanha de marketing estrelada por beldades como Luana Piovani, o serviço alcançou 1 milhão de usuários.
Embora o e-mail gratuito não possa ser considerado um projeto original - o Hotmail já existia nos Estados Unidos desde 1995 - Moraes soube identificar uma oportunidade que ainda não era explorada por ninguém no Brasil. O Unibanco percebeu isso e comprou cerca de 12% do Zip.Net por 18 milhões de dólares.
Depois de definir o foco no público jovem, Moraes começou a agregar nomes poderosos ao portal, como o de Pelé. A sacada ajudou, e muito, a chamar a atenção dos investidores para o Zip.Net.
Se Moraes conseguiria repetir nos seus novos negócios a estratégia - e o sucesso - que teve no mundo virtual é uma pergunta que ainda não podia ser respondida. Pelo sim pelo não, com a dinheirama toda no bolso, na hora de entrar em novos negócios, Moraes não estava mais assim tão ligado à chamada nova economia. Depois da venda da Zip.Net, ele criou uma holding para controlar seus investimentos chamada B4 (cuja pronúncia é before em inglês, ou "antes", dando a conotação de antecipação). No final do ano 2000, a B4 comprou 50% da Language, uma loja moderninha em Nova York, que já vinha recebendo prêmios da moda, que vendia um pouco de tudo: roupas, objetos de arte, livros e móveis. Num curto espaço de tempo, virou ponto da moda nova-iorquina e atraiu uma seleta clientela de famosos.
Mas a Language era um negócio relativamente pequeno, que fechou as portas em abril de 2004, após desentendimento com os sócios. Outro investimento de Moraes foi na editora Trip, que publica a revista do mesmo nome. E, em meados de 2004, criou a cachaça Sagatiba, que desde 2011 está nas mãos do Grupo Campari.
(Fonte: Brasil em Exame - 1999 / revista Exame -17.11.1999 / 23.01.2002 - partes)
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