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30 de out. de 2011

Banco Nacional

          José de Magalhães Pinto (1909-1996) era dono de uma pequena casa bancária, o Banco Nacional de Minas Gerais. Em 1949, contratou o sobrinho de 19 anos, José Luiz de Magalhães Lins (1930-2023), como escriturário. Lins deixaria o banco em 1972, como presidente de fato da instituição, que ajudou a transformar no segundo maior banco privado brasileiro nos anos 1970 graças a uma política agressiva de concessão de crédito e à adoção precoce de métodos modernos de gestão bancária. Lins introduziu novidades como o crédito pessoal e o boleto bancário, e o cheque personalizado.          
          Em anos anteriores a 1988, sempre que surgiam boatos de quebradeira no mercado financeiro, o Banco Nacional era um dos primeiros da lista. De 1988 em diante, essa rotina mudou, e não foi sem razão. De um banco ineficiente, que chegava sempre atrasado ao oferecimento de serviços aos clientes ou à corrida pela informatização, o Nacional transformou-se num modelo. Por trás dessa virada estaria o engenheiro Arnoldo de Oliveira, nascido em 1942, pinçado do Citibank para reestruturar o banco do guarda-chuva. Num período de quatro anos, 1988 a 1992, o número de funcionários do banco caiu de 37.000 para 17.000, enquanto os 350 microcomputadores que existiam em toda a rede multiplicaram-se para 10.000 no período.
          Oliveira, numa entrevista, em abril de 1992, ao chefe da sucursal de Exame no Rio de Janeiro, Guilherme Barros, salientou: "Nunca tranco as portas. Não existe assunto confidencial numa empresa, isso não pode existir. Todos os assuntos têm de ser discutidos até que se ache um consenso".
Mas, a essas alturas, falcatruas já estavam embrenhadas no interior do banco. E, aparentemente, ninguém levou-as ao conhecimento do chefe.
          No início de 1993, o Nacional reservou 25 milhões de dólares para investir em marketing no ano, o triplo de 1992. A meta era aumentar em 1 milhão o número de clientes, então em torno de 1,5 milhão. O banco saiu em busca de correntistas e investidores com renda mensal acima de 7.000 dólares. Em 1992, o Nacional, então com 380 agências, já dera uma pequena amostra de sua intenção de buscar clientes abonados ao comprar dez agências do Chase Manhattan, inclusive com a carteira de clientes.
          Com o acidente na curva Tamburello, no autódromo de Ímola, na Itália, em maio de 1994, que resultou na morte do piloto Ayrton Senna, o contrato particular com o piloto foi interrompido. O contrato garantia a Senna 1,5 milhão de dólares por ano.
          Em 1995, a Polícia Federal, através do delegado Paulo Lacerda, mais tarde diretor da Abin, desvendou a fraude das 900 contas falsas do banco sem escutar um só telefonema alheio. A investigação estava à procura de um rombo de US$ 6 bilhões, então o maior crime financeiro do Brasil e um dos maiores do mundo. Para resolvê-lo, doutor Lacerda valeu-se de sua própria experiência como ex-bancário e contou com o apoio do perito contábil Geraldo Bertolo. Tiveram que suar a camisa, mas obtiveram provas robustas para levar à Justiça os controladores do banco, da família Magalhães Pinto, uma das mais poderosas do país.
          O rombo de 9,2 bilhões de reais em valores da época foi camuflado durante dez anos por contas fantasmas jamais percebidas pelos auditores da KPMG. As investigações levaram a crer que o convívio entre auditores e seus empregadores contribuiu para os deslizes - daí a ideia do rodízio de empresas de auditoria que a CVM resolveu implantar.
          O Banco Central afastou a família Magalhães Pinto do mercado financeiro - mas não de todo. Marcos José de Magalhães Pinto, filho de Marcos Magalhães Pinto, ex-controlador e principal figura do falecido Banco Nacional, abriu com toda a discrição a Altrix, uma pequena empresa de participações, consultoria financeira e administração de carteiras e fundos, no Rio de Janeiro. Marcos José chegou a ser diretor do Nacional, mas, ao contrário do pai, não foi atingido pela indisponibilidade de bens nem por algum processo.
          Absorvido em 1995, a conta para o Unibanco, hoje Itaú Unibanco, ficou em cerca de 1 bilhão de dólares. Parte desse valor foi paga em ações e parte foi financiada pelo Banco Central por meio do Proer, o programa de estímulo às fusões bancárias com juros subsidiados.
          Em novembro de 2023, vem a público que a família Magalhães Pinto, controladora do Banco Nacional – que está em liquidação extrajudicial desde 1996 – propôs à administração da massa falida realizar um aumento de capital de R$ 1,529 bilhão na instituição. Ao mesmo tempo, está negociando a venda para o banco BTG Pactual.
(Fonte: revista Exame - 29.04.1992 / 28.10.1992 / 03.02.1993 / 17.08.1994 / 17.01.1996 / 19.11.1997 / 18.02.2004 / Forbes - 03.02.2023 / O Globo - 09.11.2023 - partes)

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