José de Magalhães Pinto (1909-1996) era dono de uma pequena casa bancária, o Banco Nacional de Minas Gerais. Em 1949, contratou o sobrinho de 19 anos, José Luiz de Magalhães Lins (1930-2023), como escriturário. Lins deixaria o banco em 1972, como presidente de fato da instituição, que ajudou a transformar no segundo maior banco privado brasileiro nos anos 1970 graças a uma política agressiva de concessão de crédito e à adoção precoce de métodos modernos de gestão bancária. Lins introduziu novidades como o crédito pessoal e o boleto bancário, e o cheque personalizado.
Em anos anteriores a 1988, sempre que surgiam boatos de quebradeira no mercado financeiro, o Banco Nacional era um dos primeiros da lista. De 1988 em diante, essa rotina mudou, e não foi sem razão. De um banco ineficiente, que chegava sempre atrasado ao oferecimento de serviços aos clientes ou à corrida pela informatização, o Nacional transformou-se num modelo. Por trás dessa virada estaria o engenheiro Arnoldo de Oliveira, nascido em 1942, pinçado do Citibank para reestruturar o banco do guarda-chuva. Num período de quatro anos, 1988 a 1992, o número de funcionários do banco caiu de 37.000 para 17.000, enquanto os 350 microcomputadores que existiam em toda a rede multiplicaram-se para 10.000 no período.
Em 1988, uma tropa do Citibank fora recrutada pela família Magalhães Pinto, para reanimar o Nacional. Na época, o engenheiro Arnoldo Souza Oliveira, então vice-presidente do Citibank, fora derrotado pelo seu colega Antônio Boralli na disputa pelo trono.
Arnoldo levou para o banco da família Magalhães Pinto quase trinta executivos, quantidade que superou a cinquenta em fins de 1995. Até há pouco tempo, podia se supor que esse grupo colecionara vitórias para fazer do Nacional um banco mais eficiente. O número de funcionários caiu de 30.000 para 10.000. As 500 agências foram reduzidas para 335 em fins de 1995 e investiu-se maciçamente em informatização. "Era um dos bancos mais modernos", diz um banqueiro.
A primeira vítima do novo Unibanco, que comprou o Nacional, foi o homem forte do Nacional durante os último sete anos: Arnoldo Souza Oliveira. Ele saiu da cadeira de presidente de um banco que não existe mais para engordar a estatística de desemprego. Esse foi um final melancólico para uma história que começou em 1988. Arnoldo chegou a pensar, no meio da negociação com o Unibanco, em abrir um banco de investimento, com cerca de 400 a 500 pessoas, para realização de médios negócios. Foi atropelado pela intervenção do Banco Central, que o deixou com os bens indisponíveis e sem autorização para ocupar um cargo de diretoria de um banco.
Oliveira, numa entrevista, em abril de 1992, ao chefe da sucursal de Exame no Rio de Janeiro, Guilherme Barros, salientou: "Nunca tranco as portas. Não existe assunto confidencial numa empresa, isso não pode existir. Todos os assuntos têm de ser discutidos até que se ache um consenso".
Mas, a essas alturas, falcatruas já estavam embrenhadas no interior do banco. E, aparentemente, ninguém levou-as ao conhecimento do chefe.
No início de 1993, o Nacional reservou 25 milhões de dólares para investir em marketing no ano, o triplo de 1992. A meta era aumentar em 1 milhão o número de clientes, então em torno de 1,5 milhão. O banco saiu em busca de correntistas e investidores com renda mensal acima de 7.000 dólares. Em 1992, o Nacional, então com 380 agências, já dera uma pequena amostra de sua intenção de buscar clientes abonados ao comprar dez agências do Chase Manhattan, inclusive com a carteira de clientes.
Oliveira, numa entrevista, em abril de 1992, ao chefe da sucursal de Exame no Rio de Janeiro, Guilherme Barros, salientou: "Nunca tranco as portas. Não existe assunto confidencial numa empresa, isso não pode existir. Todos os assuntos têm de ser discutidos até que se ache um consenso".
Mas, a essas alturas, falcatruas já estavam embrenhadas no interior do banco. E, aparentemente, ninguém levou-as ao conhecimento do chefe.
No início de 1993, o Nacional reservou 25 milhões de dólares para investir em marketing no ano, o triplo de 1992. A meta era aumentar em 1 milhão o número de clientes, então em torno de 1,5 milhão. O banco saiu em busca de correntistas e investidores com renda mensal acima de 7.000 dólares. Em 1992, o Nacional, então com 380 agências, já dera uma pequena amostra de sua intenção de buscar clientes abonados ao comprar dez agências do Chase Manhattan, inclusive com a carteira de clientes.
Com o acidente na curva Tamburello, no autódromo de Ímola, na Itália, em maio de 1994, que resultou na morte do piloto Ayrton Senna, o contrato particular com o piloto foi interrompido. O contrato garantia a Senna 1,5 milhão de dólares por ano.
Em 1995, a Polícia Federal, através do delegado Paulo Lacerda, mais tarde diretor da Abin, desvendou a fraude das 900 contas falsas do banco sem escutar um só telefonema alheio. A investigação estava à procura de um rombo de US$ 6 bilhões, então o maior crime financeiro do Brasil e um dos maiores do mundo. Para resolvê-lo, doutor Lacerda valeu-se de sua própria experiência como ex-bancário e contou com o apoio do perito contábil Geraldo Bertolo. Tiveram que suar a camisa, mas obtiveram provas robustas para levar à Justiça os controladores do banco, da família Magalhães Pinto, uma das mais poderosas do país.
O rombo de 9,2 bilhões de reais em valores da época foi camuflado durante dez anos por contas fantasmas jamais percebidas pelos auditores da KPMG. As investigações levaram a crer que o convívio entre auditores e seus empregadores contribuiu para os deslizes - daí a ideia do rodízio de empresas de auditoria que a CVM resolveu implantar.
O Banco Central afastou a família Magalhães Pinto do mercado financeiro - mas não de todo. Marcos José de Magalhães Pinto, filho de Marcos Magalhães Pinto, ex-controlador e principal figura do falecido Banco Nacional, abriu com toda a discrição a Altrix, uma pequena empresa de participações, consultoria financeira e administração de carteiras e fundos, no Rio de Janeiro. Marcos José chegou a ser diretor do Nacional, mas, ao contrário do pai, não foi atingido pela indisponibilidade de bens nem por algum processo.
Em 1995, a Polícia Federal, através do delegado Paulo Lacerda, mais tarde diretor da Abin, desvendou a fraude das 900 contas falsas do banco sem escutar um só telefonema alheio. A investigação estava à procura de um rombo de US$ 6 bilhões, então o maior crime financeiro do Brasil e um dos maiores do mundo. Para resolvê-lo, doutor Lacerda valeu-se de sua própria experiência como ex-bancário e contou com o apoio do perito contábil Geraldo Bertolo. Tiveram que suar a camisa, mas obtiveram provas robustas para levar à Justiça os controladores do banco, da família Magalhães Pinto, uma das mais poderosas do país.
O rombo de 9,2 bilhões de reais em valores da época foi camuflado durante dez anos por contas fantasmas jamais percebidas pelos auditores da KPMG. As investigações levaram a crer que o convívio entre auditores e seus empregadores contribuiu para os deslizes - daí a ideia do rodízio de empresas de auditoria que a CVM resolveu implantar.
O Banco Central afastou a família Magalhães Pinto do mercado financeiro - mas não de todo. Marcos José de Magalhães Pinto, filho de Marcos Magalhães Pinto, ex-controlador e principal figura do falecido Banco Nacional, abriu com toda a discrição a Altrix, uma pequena empresa de participações, consultoria financeira e administração de carteiras e fundos, no Rio de Janeiro. Marcos José chegou a ser diretor do Nacional, mas, ao contrário do pai, não foi atingido pela indisponibilidade de bens nem por algum processo.
Absorvido em 1995, a conta para o Unibanco, hoje Itaú Unibanco, ficou em cerca de 1 bilhão de dólares. Parte desse valor foi paga em ações e parte foi financiada pelo Banco Central por meio do Proer, o programa de estímulo às fusões bancárias com juros subsidiados.
Em novembro de 2023, vem a público que a família Magalhães Pinto, controladora do Banco Nacional – que está em liquidação extrajudicial desde 1996 – propôs à administração da massa falida realizar um aumento de capital de R$ 1,529 bilhão na instituição. Ao mesmo tempo, está negociando a venda para o banco BTG Pactual. No início de junho de 2024, vem a público que o BTG Pactual assumirá o controle do Banco Nacional. A liquidação extrajudicial do banco,
fundado em 1944 e conhecido
por patrocinar o piloto Ayrton
Senna (1960-1994), foi decretada em novembro de 1996.
A conclusão e fechamento
da operação estão condicionados ao fim do regime de liquidação extrajudicial do Nacional, que ocorrerá com a liquidação ou o saneamento de seus
passivos financeiros. O BTG
precisa também das aprovações regulatórias, inclusive do
Banco Central e do Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Em novembro do ano passado, o Nacional, da família Magalhães Pinto, e o BTG haviam assinado uma opção de compra e
venda da totalidade das ações
de emissão do banco. Na mesma ocasião, o Nacional realizou
aumento de capital de cerca de
R$ 1,5 bilhão.
(Fonte: revista Exame - 29.04.1992 / 28.10.1992 / 03.02.1993 / 17.08.1994 / 06.12.1995 / 17.01.1996 / 19.11.1997 / 18.02.2004 / Forbes - 03.02.2023 / O Globo - 09.11.2023 / Estadão - 04.06.2024 - partes)
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