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6 de out. de 2011

Jornal Valor Econômico

English version;
          The history of Valor, launched on May 2, 2000, runs in parallel with one of the most important periods in Brazilian economic history. The country achieved in these 15 years one of its best results in terms of inflation reduction and control, balancing public accounts, lowering social inequalities and, when compared to the recent past, accelerating growth. The same period saw Brazilian companies flourishing and growing into multinational players.
(Fonte: jornal Valor online - 05.05.2015)

Versão em português:
          Bem no finalzinho de 1999 (portanto pouco antes do bug do milênio), dois acionistas e um grupo de jornalistas, capitaneado por Celso Pinto, então, com experiência nos jornais Folha de S.Paulo e Gazeta Mercantil, desafiava a lógica mercadológica do momento. Enquanto nove em cada dez projetos editoriais da época eram destinados à internet, surgia em uma sala improvisada no centro de São Paulo o embrião do que se tornaria a redação do Valor Econômico. O jornal chegou ao mercado em 2 de maio de 2000 e, em pouco tempo, tornou-se o maior veículo impresso de informação econômica, política, financeira e de negócios do país.
          O que parecia um contrassenso era, na verdade, resultado de um projeto sólido, muita pesquisa e trabalho árduo de uma equipe altamente especializada que passou cinco meses preparando o Valor para sua chegada ao mercado. Na era da internet, o jornal já nasceu com sua versão web, além de contar com a produção própria de conteúdo diário para o site.
          Fruto da associação entre as Organizações Globo e o Grupo Folha, com 50% de participação cada um, o Valor consumiu investimentos de US$ 50 milhões, parte disso aportado com serviços de impressão e distribuição prestados pelos sócios e depois transformados em capital. A cúpula do jornal, com o jornalista Celso Pinto à frente, apoiado pelos jornalistas Vera Brandimarte (atual diretora de Redação) e Carlos Eduardo Lins da Silva, foi anunciada em 26 de novembro de 1999. Otavio Frias Filho, diretor de redação da Folha teve também participação ativa na criação do novo jornal.
          Esse pequeno grupo deu início aos primeiros rascunhos das linhas mestras da publicação. No fim de janeiro de 2000, a equipe se mudou, em caráter provisório, para o quarto andar do prédio da Editora Globo, na avenida Jaguaré, em São Paulo, enquanto o primeiro andar do mesmo prédio era reformado para receber os funcionários do novo veículo de comunicação. Enquanto fios e tijolos eram colocados aqui e ali no primeiro andar, acordos com publicações estrangeiras e contratações eram fechados no quarto andar, em meio a projetos gráficos e muitas reuniões. O primeiro andar do prédio “da Jaguaré” foi ocupado pelo Valor até maio de 2011, quando a empresa se mudou para o atual endereço, na avenida Francisco Matarazzo, na Água Branca, em São Paulo.
          A decisão de investir em um diário econômico em pleno boom da internet não foi um arroubo inconsequente de Folha e Globo. Em 1998, um estudo do instituto de pesquisas controlado pela Folha, o Datafolha, mostrava o jornal impresso como o principal meio utilizado pelo público para obter informações e análises econômicas e financeiras. Identificava, ainda, que havia espaço para outro diário econômico em um mercado até então dominado pela já extinta Gazeta Mercantil, que àquela época, enfrentava sérias dificuldades financeiras.



          Sob o comando do jornalista Celso Pinto, então diretor e redação, 164 jornalistas começaram a trabalhar em ritmo de jornal diário em 13 de março de 2000, com reuniões de pauta pela manhã e edições experimentais até o dia do lançamento. A equipe incluía as sucursais de Brasília e Rio, além de correspondentes em Buenos Aires, Washingto, Londres, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Salvador e Recife.
          Os diversos “números zero” produzidos pela equipe foram avaliados pelos grupos de foco da Feedback&Database. A redação recebia, então, as primeiras reações do público alvo do jornal ao trabalho que vinha realizando. De maneira geral, o Valor era visto como um jornal bonito, agradável de ler, com textos concisos, porém profundos.
          O projeto gráfico do jornal foi desenvolvido pelo inglês Simon Esterson, pelo americano John Belknap e pelo escocês Ally Palmer, que trabalhavam no Reino Unido e carregavam no currículo a criação ou reformulação de jornais europeus como o “The Guardian”, “The Independent on Sunday”, “Sunday Business”, entre outros. Entre os principais pontos do projeto, o uso de fotos fortes e muita informação gráfica.
          O novo jornal conquistou rapidamente o público. E novidades foram incorporadas nos anos seguintes. Em 2001, passaria a ser publicado o anuário Valor 1000, com rankings e análises de balanço das 1000 maiores empresas brasileiras, de capital aberto e fechado. O levantamento minucioso, realizado por uma equipe de economistas liderada por William Volpato, inclui a captura de centenas e centenas de balanços em papel e ligações telefônicas, à vezes, para contadores ou controladores de muitas dessas empresas. O “trabalho de formiguinha” e as pilhas de papel armazenadas foram as bases para o desenvolvimento, anos mais tarde, do módulo Valor Empresas do serviço de informação em tempo real do Valor.
          Nos primeiros anos do Valor, entretanto, nem tudo saiu como o planejado. Apesar de o jornal impresso e o site terem adquirido rapidamente a confiança do leitor e arrebanhado prêmios de jornalismo, a forte valorização do dólar frente ao real, às vésperas da passagem de bastão de Fernando Henrique Cardoso a Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência da República trouxe instabilidade à economia. Em 2003, toma-se a difícil decisão de cortar 50% do pessoal de toda a empresa, inclusive da redação. O portal é terceirizado. O conteúdo na web continua sob responsabilidade do Valor, mas a venda de publicidade digital, cadastros, venda de conteúdo e gestão tecnológica do portal passa a uma empresa terceirizada. Outro baque foi o problema de saúde do diretor de redação e um dos principais idealizadores do Valor, Celso Pinto, que o obrigou a se afastar da empresa
          Os dias difíceis fizeram aflorar uma grande qualidade da equipe Valor: a coragem para enfrentar e superar as adversidades. Em 2005, menos de dois anos depois dos dois grandes baques que afetaram a empresa, o Valor já era o líder em publicidade legal entre jornais de circulação nacional e sua tiragem ultrapassava os 60 mil exemplares. A concorrente Gazeta Mercantil tinha ficado para trás.
          Os anos seguintes foram intensos no planejamento estratégico do jornal. Era cristalina, naquele momento, a necessidade de evolução digital do Valor. Em 2007, inicia-se o projeto, por exemplo, para a digitalização dos balanços acumulados durante anos e a criação de um banco de dados eletrônico de empresas. Em 2008, o Valor retoma seu portal, até então terceirizado. Em 2010, ao comemorar sua primeira década, os acionistas do Valor aprovam um investimento de R$ 100 milhões para uma nova plataforma digital, enquanto o jornal impresso para por uma revisão da apresentação gráfica, feita pelo escritório de design inglês Esterson Associates, dirigido por Simon Esterson, um dos três que desenharam o projeto do Valor em sua concepção. A ideia era manter a linha mestra do projeto, tornando o jornal apenas mais leve e fácil de ler.
          Dois pilares, ambos já presentes na gênese do Valor Econômico, nortearam a construção da então nova plataforma digital. O primeiro foi a preparação de bases de conteúdo (notícias e dados) para atender o leitor onde quer que ele esteja: no jornal impresso, no portal, em aplicativos ou em um sistema sofisticado de informação em tempo real. O segundo foi o da integração - para abastecer vários produtos, essas bases multiplataformas têm de estar integradas e classificadas corretamente.
          A integração foi profunda também na redação. Cada editor passou a ser responsável por sua área não apenas no impresso, mas também no digital. Os repórteres foram treinados para as especificidades de meios como portais e serviços de tempo real e aprenderam que, à qualidade e credibilidade que tornaram o jornal Valor líder, era imprescindível acrescentar a agilidade.
“Nossa preocupação era fazer notícias em tempo real sem descuidarmos do aprofundamento, da análise e da reflexão que estavam no DNA das notícias do Valor desde seu surgimento”, diz Vera Brandimarte, diretora de redação do Valor.
          Para Vera, o centro de tudo no Valor é o conteúdo. “O que fazemos é apresentá-lo de várias formas, assim o público consome esse conteúdo como quiser: em tempo real, online, pelo celular, pelo impresso, em uma publicação setorial, nos anuários.” Nosso grande desafio é continuar a atender e ser relevante para seu leitor em qualquer meio.”, diz Vera Brandimarte.
          O primeiro fruto da plataforma digital foi o relançamento do portal Valor, em agosto de 2011, com o acréscimo de novos conteúdos, como o blog Casa das Caldeiras, a ênfase no layout, navegação e usabilidade e o diferencial que já é marca registrada da casa: os dados de mercado e macroeconômicos, que ficam sob responsabilidade do núcleo de economistas da casa. Foi também o primeiro veículo do país a adotar o modelo do que ficou conhecido no Brasil como “paywall poroso”, em que o conteúdo é fechado para assinantes, mas leitores que se dispõem a realizar um cadastro têm direito a ler gratuitamente uma quantidade de matérias mensais.
          Desde o relançamento do portal, sob o chapéu do Valor Digital, já foram lançados novos aplicativos para smartphones, criados a área de relações com investidores, um serviço especial em inglês (Valor International) e uma área de mídias sociais, além de experiências inovadoras em infografias e vídeos. Em maio de 2015, mês de comemoração dos 15 anos, o Valor lança seu aplicativo para Android, o sistema operacional que mais cresce no mundo.
          O Valor encara seu portal, aplicativos e sua presença nas redes sociais como uma evolução natural do que é o jornal e entende que seu leitor é aquele que pode ler o impresso no café da manhã, mas que checa o site no celular a caminho do trabalho, liga o desktop no escritório e que depois, à noite, pode levar seu tablet para cama para ver com calma alguma matéria que deixou pra mais tarde ou para analisar com calma algum indicador de mercado, uma informação financeira de uma empresa ou um índice macroeconômico.
          A amplitude de conteúdos econômico-financeiros do Valor e a possibilidade de utilizá-los em diferentes meios são fruto do forte investimento realizado na plataforma digital para colocar no mercado o Valor PRO, serviço de informações eletrônicas em tempo real do Valor. Lançado em janeiro de 2013 e voltado para os mercados financeiro e corporativo, o PRO tem notícias e análises financeiras, políticas e macroeconômicas, do Brasil e do mundo, cotações das bolsas brasileiras e estrangeiras em tempo real, ferramentas de análise gráfica, fundos de investimento, séries históricas, acompanhamento de processos no Legislativo (em parceria com o Cebrap) e o mais completo banco de dados de empresas de capital aberto e fechado do país. São 5 mil companhias, com planos de contas detalhados, informações cadastrais, análises financeiras e comparações por setor.
No segmento de notícias, além da agilidade e da acurácia na cobertura do factual, o Valor PRO entrega análises e bastidores. Todas as informações obtidas em primeira mão pela redação do Valor são publicadas imediatamente no serviço em tempo real, que tem ainda notícias da Dow Jones e da Rede Iberoamericana de Imprensa Econômica (Ripe), constituída pelos nove principais veículos econômicos da região e da qual o Valor é o único representante brasileiro.
          No segmento de dados, além de balanços de companhias, cotações de bolsas e dados macroeconômicos, o Valor PRO elegeu como seu foco principal em 2015 e 2016 a área de renda fixa – notadamente debêntures e títulos públicos. Ao coletar, tratar e agrupar dados de mercados não estruturados como esse, o Valor tem como objetivos dar transparência às informações no mercado financeiro e fortalecer o mercado de capitais. É uma tarefa árdua, daqueles tipos de desafio que a equipe Valor adora enfrentar.
          Outro projeto que merece destaque na estratégia do PRO é a gestão do conteúdo, que permitirá, na tela, que o leitor encontre um ativo a partir de uma notícia ou uma empresa a partir de uma cotação, por exemplo. Para que isso ocorra, há, por trás das telas, uma complexa classificação e integração de bases de informações, com sistemas tecnológicos consultando dicionários construídos especialmente para o Valor. A indexação do conteúdo foi concebida, como tudo na plataforma digital, para atender não só o PRO, mas todos os produtos da casa.
          Com pouco mais de dois anos de vida e voltado para o mercado profissional, o PRO já conquistou os principais bancos e grupos empresariais brasileiros, além de estar presente em fundos de pensão e em gestores de recursos. Nesse período, teve também seus tropeços. Mas qual projeto inovador não tem? Ademais, os 15 anos do Valor mostram que resiliência, coragem para evoluir e enfrentar desafios e compromisso com o leitor estão no DNA da casa.
     E o que esperar dos próximos 15 anos? Um veículo como o Valor não pode parar de se atualizar. A maneira com que se consome conteúdo está em plena transformação e a mobilidade tende a continuar ganhando espaço e a impor mudanças consideráveis na maneira como se entrega e se consome informação, diz Carlos Ponce, presidente do Valor. “Não há dúvida, quando se fala em futuro, que o meio digital estará capitaneando essa transformação. O Valor está preparado para esse movimento e, tenho certeza, assumirá um papel de protagonista”, afirma.
          Segundo Ponce, ao longo de sua história, o Valor construiu sua marca forte ao entregar conteúdo relevante e de credibilidade para um público formador de opinião, promovendo o debate de ideias que contribuem para o desenvolvimento do país. “Nenhum veículo de informação, seja em tempos de restrição ou expansão econômica, sobrevive, entre outras coisas, sem credibilidade, qualidade e respeito aos leitores e anunciantes”, afirma o presidente do Valor.
          Em 13 de setembro de 2016, o Grupo Globo adquire os 50% que o Grupo Folha detinha na empresa Valor Econômico S.A. e passa a ter 100% do controle do jornal Valor. O motivo da negociação teria sido a divergência entre os dois grupos sobre como conduzir o Valor PRO, o serviço de notícias em tempo real do jornal Valor.
          O jornalista co-fundador Celso Pinto faleceu em 3 de março de 2020, aos 67 anos.
(Fonte: Valor online - setembro 2015 - por Camila Dias e Raquel Balarin - parte)

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