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6 de out. de 2011

BRA - Transportes Aéreos

          A empresa aérea BRA - Brasil Rodoaéreo foi fundada em 1999 pelos irmãos Humberto e Walter Folegatti, donos da agência de turismo PNX Travel e de uma rede de hotéis. Operou durante algum tempo um Airbus A310-300.
          Em 2001, a empresa começou a operar como BRA - Transportes Aéreos, utilizando um 737-300 arrendado.
          Até 2005, ela oferecia voos charter e fretamentos. Com a expansão do turismo no Brasil, o negócio tornou-se rentável. Capitalizados, os Folegatti decidiram investir em voos regulares.
          Em 2006, a companhia cresceu quase 30% e o sucesso acabou chamando a atenção de investidores. Em dezembro, um grupo de investidores comprou, por R$ 180 milhões, 20% das ações da companhia. Entre eles, a Gávea Investimentos, do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga e o Goldman Sachs, maior banco de investimento do mundo. De acordo com os planos iniciais, o presidente da companhia seria um profissional de mercado, e o dono da BRA, e Humberto Folegatti deixaria as funções executivas.
          A aposta dos investidores deveu-se às perspectivas de crescimento do mercado brasileiro em 2007. Em agosto de 2007, em cerimônia com a participação do presidente Lula, a companhia anunciou a compra de 40 jatos da Embraer, por R$ 1,4 bilhão. A BRA seria, então, transformada numa empresa aérea regional, com uso intensivo de aviões zero-quilômetro da Embraer. Assim, fugiria da competição direta com Gol e Tam e atingiria uma participação de 18% do mercado em apenas três anos.
          No entanto, a confusão nos aeroportos e o acidente da Tam (julho de 2007) tornaram um negócio que parecia promissor num grande mico. "Os investidores colocaram dinheiro com o propósito de participar da abertura de capital da companhia e faturar rapidamente com a venda das ações", disse um analista do mercado financeiro.
          Mas o caos aéreo não teria sido o único responsável pelos graves problemas da empresa. Acostumada a cancelar voos para favorecer fretamentos de suas empresas, sem nenhum compromisso com os passageiros; a ausência de conhecimento de aviação comercial, mesmo que com experiência no setor de turismo e a má administração, também teriam concorrido para o surgimento dos problemas.
          No início de setembro de 2007, Humberto Folegatti e German Efromovich, dono da Ocean Air romperam um acordo de compartilhamento de voos e, a partir do fim daquele mês, não dividiram mais seus aviões. Os empresários não falaram sobre o tema, mas no mercado comentou-se que o motivo do fim do acordo foi a falta de transparência de Folegatti nos negócios. Essa era a mesma reclamação dos sócios de Folegatti na BRA. - o banco Goldman Sachs e o Gávea Invest -, que lutavam para tirá-lo da presidência da companhia. Folegatti e seu irmão Walter eram donos de 80% ds ações. Mesmo com tamanha força, os investidores apostavam no que chamavam de "desfolegattização" da BRA. Segundo eles, o estilo do fundador seria incompatível com o novo rumo dado à empresa. A principal característica desse estilo é a centralização. Havia, porém, diferentes pontos de vista entre os próprios investidores. Outra corrente, da qual o fundo Gávea, de Arminio Fraga, seria partidário, pensa justamente o contrário, Para eles, o sucesso da BRA até então era frutop da atuação de Folegatti, e não haveria motivo para tirá-lo da direção da empresa. A compra dos aviões da Embraer foi finalmente concretizada em 21 de agosto de 2007, com financiamento do BNDES.
          No final de outubro (2007), o tempo fechou de vez para a BRA. Se a empresa já enfrentava problemas com sócios, como o banco americano de investimento Goldman Sachs, por divergência na condução dos negócios, passou a se ver em apuros com seus fornecedores. A Gecas, braço de leasing de aviões da GE, cancelou a venda de dois jatos EMB 195 da Embraer, por falta de pagamento da primeira parcela.
          No início de novembro de 2007, Humberto Folegatti, sob pressão, renuncia ao cargo de presidente da empresa. Na terça-feira 6, o apagão fez uma vítima entre as próprias companhias. A BRA, terceira maior empresa aérea do país, dona de 3,4% do mercado de transporte aéreo de passageiros, atrás somente da Gol e da Tam, com frota de 11 aeronaves e que chegou a fazer 35 voos diários, anunciou a suspensão de todos os voos, demitiu 1.100 funcionários e deixou aturdidos 70 mil passageiros que haviam comprado bilhetes até março de 2008.
          A surpresa não foi a crise em mais uma companhia de aviação no Brasil. O espanto veio da constatação de que a BRA foi à lona apenas 11 meses depois de receber o aporte de 130 milhões de dólares das mãos de alguns dos mais renomados investidores em operação no país.
          É difícil acreditar, mas o experiente time de investidores que ingressou na BRA em 2006 não foi capaz de antever a situação caótica que se avizinhava - além de Gávea e Goldman Sachs, faziam parte do grupo um fundo do Bank of America, os gestores de private equity Darby, HBK e Millennium e o Development Capital, empresa de investimentos do americano Paul Tierney, executivo que coordenou a reestruturação da United Airlines nos anos 1990.
          Em teoria, o modelo de negócios da companhia era promissor - explorar rotas regionais, um nicho não atendido por Gol e Tam. Mas, uma série de problemas minou o negócio e levou a empresa aérea a paralisar suas operações em novembro de 2007. Os aviões só voavam cheios à custa de grandes descontos, que geravam prejuízos. Cerca de 60% dos recursos investidos pelos fundos foram usados para pagar dívidas em detrimento do aumento de sua frota e expansão de suas operações. A BRA não cumpriu o acordo que previa a saída de Humberto Folegatti da presidência. A disputa pelo comando da empresa prejudicou planos que poderiam recuperar a companhia. A operadora PNX, controlada por Folegatti, manteve o monopólio da venda das passagens da BRA. A empresa não conseguiu aumentar receitas e baixar custos para reagir ao caos gerado pela crise aérea ao longo de 2007. A BRA não divulgava balanços e informações financeiras, prática exigida pela Anac.
(Fonte: revista Época - 12.11.2007 / revista Exame - 29.08.2007 / 12.09.2007 / 21.11.2007 - partes)

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