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6 de out. de 2011

Évora (ex-Petropar)

          A Petropar foi fundada em 1988, e reúne indústrias de não tecidos para descartáveis higiênicos (Fitesa), tampas plásticas (América Tampas) e embalagens de alumínio (Crow Embalagens). Possui também um braço na área de reflorestamento através da Rio Novo Florestal. A sua controlada Fitesa (não tecidos) possui unidades fabris no Brasil, Peru, México, Alemanha, Suécia e Itália, cujas fábricas na Europa e China foram compradas da inglesa Fiberweb.
          Os negócios da empresa, embora voltados ao processo industrial, estão fortemente associados ao segmento de bens de consumo de massa, que possuem características anticíclicas e tem experimentado rápido crescimento pelo aumento da renda familiar, pelo processo de ascensão social e pelo efeito do fator multiplicador dessa mobilidade social sobre os segmentos onde a empresa atua.
          Na época da criação da empresa os negócios concentravam-se no setor petroquímico (daí a origem do nome Petropar. O "par" vem de participações), na produção de resinas termoplásticas e fertilizantes. Ao longo dos anos a Petropar implementou com sucesso a reformulação completa do portfólio de negócios, focando a atuação na produção de insumos para mercados de bens de consumo, através da entrada de novos negócios como latas de alumínio para bebidas, não tecidos de polipropileno, usados principalmente na produção de descartáveis higiênicos, roupas médicas, filtros. absorvedores de óleo, colchões, calçados etc e de tampas plásticas para bebidas e produtos de higiene, beleza e limpeza.
          O fundador, Sheun Ming Ling, veio ao Brasil por acaso. Ele não teve uma educação formal por ser algo muito caro na China. Mas queria estudar. Foi para Taiwan ser entrevistado por um professor e, após a conversa, foi informado que, com seus conhecimentos, poderia estar dando aulas na China. Se ele quisesse estudar mesmo, teria que ir aos Estados Unidos. Como ele não falava inglês, ficou por seis meses tentando o visto e não conseguiu. Nesse meio-tempo, a empresa em que trabalhava comprou um pequeno negócio no Brasil e ele foi transferido para cá. Fazia compras, sem falar português nem saber dirigir. Num negócio que acabou dando certo, ele se tornou sócio de uma pequena indústria em Santa Rosa (RS), para pagar quando pudesse. Criou, com um sócio, a Olvebra.
Em 1992, a Petropar promoveu uma corajosa virada estratégica. O grupo vendeu a PPH, fabricante de polipropileno e fonte da maior parte de sua receita, para a Odebrecht - e seu faturamento caiu de 250 milhões de dólares para 41 milhões de dólares. A seguir, definiu como novo foco para seus negócios a transformação de plásticos. Nesse período, o executivo Luiz Kaumann ocupava a vice-presidência e foi um dos mentores da reestruturação da empresa ajudando seus sócios a sair do setor petroquímico com a venda da PPH. Depois de estudar uma infinidade de projetos, os Ling decidiram entrar no ramo de embalagens PET, cujo consumo crescia a uma taxa de 30% ao ano.
No começo da segunda quinzena de agosto de 1995, Sheun Ming Ling passou oficialmente o comando da Petropar para um de seus quatro filhos, William. O processo começara três anos antes. William tinha 18 anos quando entrou no grupo como trainee. Ele e seus irmãos Winston e Wilson (a irmã Rosa morava em Hong Kong) foram preparados para suceder o pai. Para Winston, o primogênito, Sheun destinou a direção da holding da família, a Terramar, e a tarefa de prospectar novas oportunidades de negócios. O caçula, Wilson, foi ungido como o principal executivo da área financeira da Petropar.
Na verdade, a troca de comando foi apenas uma etapa de um dos mais ambiciosos planos da história da Petropar: tornar-se o maior fabricante de embalagens PET e latas do país. Com essa decisão, comprou uma tremenda briga. Nas latas, seu principal concorrente era a Latasa, uma associação da Reynolds Metals com o JP Morgan e o Bradesco. Em embalagens PET, utilizadas para a fabricação de garrafas plásticas, os adversários seriam a Rhodia, a Alcoa e a Engepac, do grupo baiano Mariani.
Para atingir sua meta, a Petropar associou-se, no início de 1995 à Crown Cork & Seal Company, gigante americana do setor de embalagens. Juntas, investiriam 140 milhões de dólares nos dois anos seguintes. A Crown entrou na associação com suas duas fábricas no Brasil, onde produzia tampas e latas metálicas. A Petropar pôs no negócio suas três unidades de PET. Foram criadas duas empresas: a Petropar Embalagens Plásticas, para PET, e a Crown Embalagens, fabricante de latas.
Em 2005, então com 48 anos, William Ling decidiu sair do comando da empresa para abrir espaço aos executivos do grupo, então dono de um faturamento de 538,5 milhões de reais. Passou para o conselho de administração. Ele continuou a se dedicar a uma fundação que criou em 1995 e concede bolsas a jovens estudantes de administração.
          Há muitas coincidências na vida de Sheun Ming Ling, segundo seu filho William Ling, nascido em 1957. Em 2008 - oito é o número da sorte chinês - ele com 88 anos, no dia 08/08/08, foi operado de um coágulo no cérebro na cidade em que nasceu. Foi uma sorte incrível: ele estava jantando com um amigo médico antes da abertura da Olimpíada e havia um hospital novo, com os melhores médicos, que tinha acabado de ser inaugurado para o evento. Ele praticamente renasceu na cidade em que nasceu.
          O nome Petropar foi trocado em 2013, 25 anos após a fundação da empresa (1988). O novo nome, Évora, é uma união das palavras "evolução" e "valor" (mesmo que com mudança de posição de algumas letras) e tem tudo a ver com os valores do fundador, segundo seu filho. Ele nunca falou explicitamente sobre isso, mas, por suas atitudes, é exatamente o que pratica. Ele, por exemplo, não tinha apego emocional às coisas. Quando ele e o sócio que criaram a Olvebra (que deu origem à Petropar) se separaram, na hora de decidir o que iria para cada família ele não fez questão de ficar com nada - mesmo que tenha quase morrido de estafa de tanto trabalhar - por apego emocional. Ele sabia que tinha muita coisa a ser feita, muito trabalho a ser realizado para continuar crescendo. Até mesmo por ter dado muitas voltas na vida. Na China, ele viveu a invasão japonesa, a guerra da Coreia, a Guerra Civil. Ele passou por todos esses episódios e, quando viu que estava vindo um sistema que não ia funcionar bem (a implantação do comunismo), ele saiu.
          A decisão pelo reposicionamento de sua marca veio após a constatação de que o nome Petropar não mais representava os negócios que caracterizam a empresa, nascida a partir da reestruturação societária do Grupo Olvebra, em 1988. Na época, a família Tse ficou com os negócios da área de soja e alimentos, e os Ling uniram ativos da área petroquímica e de plásticos sob a denominação Petropar - Petroquímica Participações. Todos esses negócios foram vendidos ou descontinuados, e em seu lugar surgiu um novo conjunto de atividades, voltado para o mercado de bens de consumo de massa.
          No dia 5 de agosto de 2016, as corretoras correm atrás dos acionistas minoritários, por telefone, para avisá-los que é o último dia para participar da OPA (oferta pública de ações), pois a Petropar (Évora) iria fechar o capital. E os minoritários da BM&FBovespa têm mais um motivo para se lamentar. A Petropar é justamente de um cantinho gaúcho, assim como a Copesul. Ótimas empresas para acionistas que não se importam pela baixa liquidez das ações. Acionistas que agem com muita calma tanto para comprar como para vender. Ambas, Copesul e Petropar, eram lucrativas e boas pagadoras de dividendos. A Copesul, após empurrão da Braskem e Petrobras, foi engolida pela Braskem e fechou o capital há alguns anos. Agora é a Évora, que nem havia trocado o símbolo da Petropar na bolsa (PTPA4) que diz adeus.
(Fonte: revista Exame - 27.10.1993 / 30.08.1995 / 16.08.2006 / IEMI / site empresa / jornal Zero Hora - 30.04.2013 / revista Época Negócios - 07.08.2013 - partes)

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