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5 de out. de 2011

Padaria 14 de Julho

          De manhã, o cheiro do pão italiano quentinho vai impregnando as ruas do Bexiga, na Bela Vista, região central de São Paulo. Clientes locais, gente que veio de longe e até turistas são guiados pelo aroma e pela promessa de uma bela mordida na tradição – que também pode vir recheada com linguiça e provolone.
          Por lá, há quatro padarias italianas que ultrapassaram os 100 anos: Italianinha (fundada em 1896), 14 de Julho (1897), São Domingos (1913) e Basilicata (1914). Com boa vontade (e desejo de queimar as calorias conquistadas nos próprios estabelecimentos em questão) é até possível fazer um circuito a pé para conhecê-las. Hoje, todas ostentam uma quarta geração de descendentes interessados nas próximas fornadas.
          A história das padarias centenárias do bairro tem muitos pontos em comum. O primeiro, claro, é a imigração italiana. No início do século 19, diversas famílias recém-chegadas ao País foram morar na região. Na época, trouxeram para a cidade um hábito de sua terra natal – o de fazer pão em casa.
“Na Itália, cada família tinha um forno, girava sua massa e fazia o próprio pão por um mês. Depois, as famílias passavam seu fermento natural para o vizinho, que após produzir o seu pão também repassava o fermento para a próxima família”, contou Ângelo Agazio Lorenti, da quarta geração da família que está no comando da Basilicata.
          O prazer de produção caseira veio antes da comercialização do produto. Como a quantidade produzida era grande, os pães eram compartilhados entre amigos e vizinhos. Depois, a crise econômica e a dificuldade de arrumar trabalho em outras áreas fizeram com que aquilo que era um hobby virasse profissão. Nos primeiros anos, as padarias do Bexiga faziam suas entregas em carroças, usando cavalos para levar os pães de casa em casa.     
          A padaria 14 de Julho, uma das centenária do bairro Bexiga (Bela Vista), foi fundada em 1897 por Rafaelli Franciulli (que anos mais tarde também seria dono da Lucânia/Italianinha). Originalmente, Franciulli trabalhava como mecânico em Santa Maria di Castellabate, na Itália, mas ao chegar ao Brasil notou que quase não existiam automóveis circulando pela cidade. “A saída dele foi abrir uma padaria”, contou o neto, Alexandre, da terceira geração (e irmão de Sandra, da Padaria Italianinha).
          O pai, Wilson Franciulli, foi quem cuidou da padaria por mais tempo – até que perdeu um braço em um acidente de trabalho. Depois do ocorrido, Rafaelli vendeu a padaria – que teve outros donos até ser recomprada pelo próprio Wilson. Hoje, Alexandre é quem toca o lugar e mantém a tradição familiar. Além dos pães italianos, o lugar é conhecido pela porchetta recheada. Ao lado da padaria, Alexandre abriu uma cantina com o mesmo nome.
(Fonte: O Estado de S.Paulo/IstoÉDinheiro - 30.06.2019)

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